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Generalidades com Especificidade

Generalidades com Especificidade

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Guaiba - Outros Tempos

Guaiba, cidade situada à pouco mais de 25 km. da capital Gaúcha, Porto Alegre, na margem direita do lago de mesmo nome, já foi em outros tempos um lugar bucólico e aprazível, procurado nos fins de semana por ávidos veranistas em busca de suas areias brancas e de suas praias bonitas e refrescantes. Hoje incorporada à região metropolitana, é só mais um amontoado de construções, áreas residenciais e vilas, sucumbindo às mesmas mazelas de todos os centros urbanos de qualquer lugar. Crimes, drogas, roubos, tráfico e toda série de incertezas dos tempos "modernos". Ficam na memória os tempos poéticos, e nos  registros fotográficos daqueles que veem a beleza e a possibilidade de perde-la. A seguir alguns desses registros de outras épocas.



Centro da cidade, beira do lago - A praça bem cuidada com seus bancos de concreto, oferecidos à comunidade pelos comerciantes locais. Ao fundo oa antigo prédio de madeira, que foi restaurante, sede de secretarias públicas e diversas outras atividadese ao lado a casa de bombas da Corsan. Anos 50/60.


Praia da Alegria - Um já velho trapiche de madeira, que nos tempos áureos das praias da cidade, era local de desemnbarque dos turistas que atravessavam o lago a bordo do barcos movidos a vapor. Hoje em dia o bairro está atirado às traças, com habitações irregulares, invasões de áreas da margem e outras complicações oriundas da má gestão e pelo abandono da máquina pública. A ampliação de industria de celulose que prometia enormes benesses ao local, só trouxe mais abandono e esquecimento. Anos 70.


Rua Santa Catarina - O parque 35 foi uma das primeiras urbanizações depois da cidade velha, um bem planejado loteamento na época mas, que custou a ter pavimentação e sistemas de esgoto adequado. Foi preciso conviver com esgoto a céu aberto e ruas poeirentas até os anos noventa, quando sofreu melhorias, devido às novas residencias que foram sendo construídas e a necessidade por melhores serviços públicos. Anos 40.


Posto Shell - Na entrada da cidade, uma pequena encruzilhada a qual chamavam de "trevo", hoje dá lugar a um moderno viaduto e uma bem planejada e construída rótula, tendo livrado a cidade de frequentes acidentes, terríveis e fatais que ceifaram muitas vidas no passado. O posto "Shell" alí instalado dava nome ao lugar que até hoje é assim conhecido. Na verdade o bairro é chamado de Vila Nossa Senhora de Fátima. Anos 70.



Chama Crioula - Na beira do lago, uma churrascaria e pizzaria, local de grande movimentação em tempos de boa vizinhança e respeito. O local foi todo demolido e dá hoje lugar ao estacionamento de um supermercado. Anos 90


Barco Flutuante - Nos anos noventa um empresário da cidade resolveu colocar um bar em uma balsa, não obteve sucesso e o bar foi fechado em seguida. Também não oferecia as condições de segurança necessárias nem sanitárias adequadas para o tipo de negócio.

Barcas - Uma segunda tentativa de manter uma linha regular de transporte fluvial entre Guaiba e Porto Alegre, resultou fracassada no início dos anos oitenta. Embarcações adaptadas de forma inadequada, não oferteciam as condições mínimas exigidas para a operação. A travessia era mais divertida que hoje em dia, visto que podia-se andar por todos os lugares das embarcações sem medo de ser feliz, mesmo com os riscos que a tarefa oferecia.



Nossa Senhora do Livramento - A matriz da cidade, pouco mudou nos últimos anos mas, permanece bem cuidada. A não ser pela praça, descuidada por muitos anos, com calçadas estragadas e mato por todos os lados. Vez por outra recebe uma caiação provisória da prefeitura em alguma data significativa. Anos 60.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

quinta-feira, 12 de julho de 2018

David Bowie - Outside - 1995



Quando morou na Alemanha entre 1976 a 1979, David Bowie produziu álbuns experimentais e revolucionários que ficaram conhecidos como “A trilogia de Berlim”:  “Low (1977), “Heroes” (1977) e “Lodger” (1979), todos com a colaboração do músico e produtor Brian Eno, mago da estética eletrônica que começava a vicejar com força, primeiramente na Alemanha a partir de Berlim e, em seguida se alastrando pelo mundo todo. Cabe salientar que a  exatidão do apelido de "Trilogia de Berlim" é debatido, pois apenas "Heroes" foi totalmente gravado em Berlim, nenhuma das faixas de Lodger foram sequer gravadas na Alemanha (apenas na Suíça e em Nova Iorque), mesmo assim, o termo foi utilizado de forma recorrente pelo próprio Bowie para descrever os álbuns. Temas profundamente enraizados no período de vida que Bowie vivia, como o uso rotineiro de drogas permeiam o primeiro álbum, o segundo e terceiro são mais leves mas, trazem as mesmas questões filosóficas existenciais que acompanharam o artista até o fim da vida. Instrumentais impecáveis e que apontam para diversas direções nortearam boa parte da música mundial a partir de então. Mesmo que esses trabalhos não sejam a produção mais popular de David Bowie, como elas viria a se tornar a partir dos anos oitenta, Bowie atravessou a década posterior com estrondoso sucesso em maravilhosas e longas tours, apontando sempre novos caminhos e descobrindo novos artistas para o mundo, como o caso do guitarrista Steve Ray Vaughan, que ganhou as rádios e TVs na música “Let’s Dance” do álbum homônimo de 1983, do qual participou, depois que Bowie o conheceu no festival de Montreaux algum tempo antes.
Seis álbuns depois da célebre trilogia, Bowie retornou ao tema. Após encontrar o amigo Brian Eno em uma festa de casamento, tiveram a idéia de voltar a produzir juntos, na mesma direção do que haviam feito em Berlim. Com o subtítulo "The Nathan Adler Diaries: A Hyper-cycle", “Outside” se centra nos personagens de um mundo distópico às vésperas do século XXI.  Bowie e Eno visitaram o hospital psiquiátrico Gugging, próximo a Viena, na Áustria, no início de 1994 e entrevistaram e fotografaram  pacientes artistas. Bowie e Eno levaram um pouco dessa arte consigo para o estúdio, enquanto trabalhavam juntos em março de 1994, criando uma peça sonora de três horas que era majoritariamente composta por diálogos, depois esse material foi editado e produzido de forma a ser contido em um álbum com tempo viável para comercialização.
O álbum “Outside” faz parte do material menos conhecido de David Bowie, se manteve assim durante todo esse tempo, como vendagens fracas e relegado ao escaninho mais obscuro do artista mas, tem especial apreço dos verdadeiros admiradores de sua música e é da mesma forma cultuado como os da trilogia dos anos setenta. A música de Bowie não é material de fácil absorção e, por apontar para universos diversos não faz parte do culto comum ao mundo do rock and roll, está acima de qualquer clichê destes que vem se repetindo desde os anos cinqüenta, baseados no blues e demais segmentos da música negra Americana. Bowie construiu sua própria música, uma colcha de retalhos que absorveu experiências de todas as vertentes, desaguando em um mar infindo de possibilidades que somente ele sobe dar forma. Mesmo que em alguns casos essa forma seja difícil de reconhecer. Com “Outside” Bowie pretendia como disse em uma entrevista, dar uma vida longa a esse trabalho, observando que o álbum foi feito como um reflexo da ansiedade dos cinco últimos anos do milênio: (1995 a 2000)
“No geral, o objetivo a longo-prazo é o de fazer uma série de álbuns que vão até 1999 - e tentar capturar, usando esse artifício, como se sentem os últimos cinco anos do milênio. É um diário dentro de outro. A narrativa e as estórias não são o conteúdo - o conteúdo é o espaço entre os pedaços lineares. As texturas enjoadas e estranhas... Ah, eu tenho as esperanças mais amáveis para o fim de século. Eu o vejo como um rito de sacrifício simbólico. Eu o vejo como um desvio, um desejo pagão de satisfazer os deuses, para que possamos seguir em frente. Há uma verdadeira fome espiritual lá fora sendo preenchida por essas mutações do que mal é lembrado como rito e ritual. Tomar o lugar deixado por uma igreja não-autoritária. Temos esse botão de pânico nos falando que haverá uma loucura colossal no fim deste século”
Bowie não levou a cabo suas idéias, mesmo assim produziu mais seis grandes trabalhos até o dia de sua morte em 10 de janeiro de 2016, em Nova Yorque.


quinta-feira, 5 de julho de 2018

Bebeco Garcia - Me Chamam Curto Circuito - 1999



Bebeco Garcia foi provavelmente o maior guitarrista de blues e rock do rio grande do sul e quiçá do Brasil. Ele reunia em sua pessoa a empáfia de “rock star”  com o carisma de Blueseiro feroz e,  tinha técnica guitarrística e vocal para sustentar o status. A exemplo de feras como Celso Blues Boy e André Christovam, desenvolveu um estilo próprio, que funcionava bem ao vivo e nos diversos álbuns que deixou: “ Aleluia, aleluia” (1997), “Me chamam curto Circuíto” (1999), “Confidencial” (2003), “Rio grande, rio blues” (2005) e o espetacular registro ao vivo, da série Palco, gravado na Casa de Cultura Mário Quintana, no Teatro Bruno Kieffer, em 25 de julho de 2000, e lançado em 2005, onde aplicou de forma genial a sua técnica vigorosa de guitarra e lap steel.  Esse último um instrumento para se tocar sentado e sobre as pernas, ao qual Garcia tocava de forma peculiar, pendurado no pescoço como fosse uma guitarra comum. Sou admirador de Bebeco Garcia desde que o vi tocar pela primeira vez quando juntamente com seu grupo “Garotos da Rua”, eram a banda da casa do bar “Rocket 88” na Joaquim Nabuco, em Porto Alegre. Depois teve aquela participação magnífica no solo da musica “Nós que ficamos sós”, no álbum de Carlinhos Hartlieb “Risco no Céu” (1983).  Bebeco deixou algumas apresentações gravadas para a TVE  de sua fase solo e fez shows memoráveis em diversos lugares da capital e interior. Um dos melhores foi um coletivo com outros artistas na primeira inauguração do Araújo Viana depois da reforma no final dos anos noventa, em que deixou o público e alguns colegas de boca aberta, com sua pegada infalível no lap steel  e sua presença rockeira selvagem de palco. Convém registrar que ao longo de sua carreira solo, Bebeco Garcia contou com aliados, que o ajudaram a dar forma e moldar o seu talento nato, como – Egisto dal Santo, Fabio Lee, Edinho Galhardi e seu filho, Pedro Garcia que tocam de forma exemplar com o mestre em “Me chamam....”). José Francisco Mello Garcia nasceu na cidade de Rio Grande em 11 de outubro de 1953 e deixou esse planeta prematuramente no dia 19 de maio de 2010, não sem antes, espalhar muitas faíscas e derrubar disjuntores por onde andava e tocava.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Sanguinho Novo - 1989 + As várias vidas de Arnaldo Baptista



Poucos artistas brasileiros tiveram tantas mortes e renascimentos artísticos quanto Arnaldo Baptista. Em 1973, depois dos Mutantes não conseguirem que a gravadora lançasse o álbum “O a e o Z”, Arnaldo que vinha usando LSD, se mandou do grupo e se isolou na serra da Cantareira no interior de São Paulo, completamente alucinado, com o intuito de construir uma nave espacial, tendo sido esta a sua primeira morte artística, desapareceu por um bom tempo. Renasce e retorna a atividade artística tentando seguir carreira de produtor musical, mas o insucesso o motiva a tentar carreira solo. Então, Lança ”Lóki?” (1974), considerado seu melhor trabalho, mas, acaba por morrer novamente e somente volta a renascer em 1977, quando forma um dos grandes grupos do rock do Brasil, “Patrulha do Espaço”, projeto que não duraria muito e, em 1978 deixa o grupo e volta a morrer.  Volta à vida em 1982 quando lançaSingin' Alone, um trabalho voltado para o rock progressivo, gravado em uma espécie de limbo artístico, em 1981. Nesse ano morre mais uma vez e é internado com forte depressão no Hospital do servidor Público de São Paulo, onde tenta o suicídio jogando-se pela janela, sofrendo traumatismo craniano. Sobre essa internação Arnaldo disse algum tempo depois: "depois que me internaram da primeira vez, qualquer motivo era razão para me internar novamente". Recuperado do “acidente”, Arnaldo Baptista renasce mais uma vez e grava em apenas dois canais, para o selo “Baratos afins” o álbum “Disco Voador” (1987). Uma gravação caseira, que não acontece. Arnaldo faz alguns shows e morre. Para levantar recursos, estimular e manter viva a arte de Arnaldo Batista, Carlos Eduardo “Gordo” Miranda e outros produtores produziram o álbum tributo "Sanguinho Novo - Arnaldo Baptista Revisitado" (1989), com bandas como SepulturaRatos de PorãoPaulo Miklos, Felinni, entre outros nomes. A elaboração do disco levou quase dois anos e conseguiu reunir 13 bandas. Cada uma apresenta sua forma pessoal  de ver o trabalho de Arnaldo. Algumas gravações extremamente felizes como “Dia 36” com o grupo “3 Hombres” que cometeu uma das melhores versões do tributo. A banda "Maria Angélica" também se deu bem com a linda “Te amo podes crer”. Outras participações foram  sofríveis como a dos “Ratos de Porão” e “Sepultura”, que em total dissintonia com a sutileza das composições de Arnaldo, cometeram verdadeiros escárnios musicais. O “DeFalla” também cometeria um destes ‘escárnios’, mas sua versão ultra erotizada para “Vou me afundar na lingerie” nem chegou a entrar no projeto final. As demais participações ajudam a salvar o trabalho, mas não o suficiente para trazer Arnaldo à vida novamente, apesar de traze-lo aos palcos em algumas apresentações do projeto. A volta de nosso herói somente ocorreria em 2004, quando John Ulhoa do “Pato Fu” gravou no sítio de Arnaldo, no interior de Juiz de Fora (MG), o álbum “Let it Bed”, que foi lançado como encarte da revista, “Outra Coisa”, editada por Lobão. O trabalho ganhou o prêmio Claro de Musica Independente de 2005 e foi considerado pela revista inglesa Mojo, como um dos 10 melhores daquele ano e finalmente Arnaldo Dias Batista veio ao mundo novamente. Excursiona, volta a tocar com os Mutantes em uma versão mais moderna, o álbum “O A e o Z” deles é relançado, deixa novamente o grupo por discordar da direção artística e comercial dada pelo irmão Sergio Dias. Volta a fazer shows, pinta telas e faz diversas exposições. Dá entrevista e segue trabalhando, com uma intensa agenda em 2018, como a apresentação de maio, "Sarau o Benedito?", na qual acompanhado de um piano, de suas obras como artistas plástico como cenário Arnaldo mostrou os clássicos "Cê Tá Pensando que Eu Sou Loki?", "Não Estou nem Aí", "Jesus Come Back to earth” e “Balada do Louco”, com estrondoso sucesso, na Caixa Cultural, em São Paulo.
Viva Arnaldo Baptista e suas muitas vidas!



segunda-feira, 25 de junho de 2018

Sergio Sampaio - Cruel



Quando o capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, Sergio Sampaio,  ficou conhecido nacionalmente após ter uma de suas músicas classificadas no II Festival Internacional da Canção – FIC  em 1972, ele tornou-se tão conhecido como qualquer um desses astros imediatistas de hoje em dia. Todas as casas tinham um compacto do festival com a canção “Eu quero é botar meu bloco na rua”, as crianças cantavam nas escolas e até nas festas paroquiais ela soava nos alto falantes, tornando-se assim a marchinha de carnaval mais tocada nos clubes e rádios durante algum tempo. Depois disso vieram outros discos, mas, nenhum repetiu o sucesso da canção emblemática e o astro caiu no esquecimento geral, sendo lembrado apenas por uma legião de seguidores, que cantavam suas canções e compravam seus discos. Sampaio havia caído numa região em que muitos artistas nacionais caíram, uma área de sombra que engoliu grandes talentos, colocando-os fora dos holofotes da mídia e conseqüentemente relegando-os aos quartos solitários dos audiófilos mais antenados. Foi assim com Walter Franco, Jards Macalé e Sergio  Dias Baptista. Cada um  com a parcela que cabia nessa punição, alguns sobrevivendo e outros sucumbindo. Até sua morte em  15 de maio de 1994, Sergio Sampaio esteve fadado ao esquecimento total, ao apagão e ao ostracismo a que são jogados os gênios incompreendidos.  De lá para cá algumas coisas mudaram, existem festivais que saúdam sua memória em vários pontos do país, como o Festival Sérgio Sampaio  que chegou a 12ª edição esse ano (2018),  movimentando a cena cultural do Centro de Vitória durante três dias, com shows, bate-papos e mostras diversas de sua arte. Erasmo Carlos, Zeca Baleiro e muitos outros artistas de renome finalmente começaram a gravar suas canções e seu nome voltou a crescer, de forma modesta, mas, caminhando para recolocá-lo no posto que merece no cenário histórico da musica popular brasileira.
Foi nesse caminho que o cantor e compositor Zeca Baleiro  retomou um projeto de 1993 do próprio Sampaio que, antes de sua morte estava ensaiando uma volta ao cenário, compondo e organizando um novo repertório, que seria lançado em forma de álbum pelo selo Paulista “Baratos Afins”. Projeto que ficou inacabado por conta de sua morte, no ano seguinte.  Quando Baleiro conheceu a ex-mulher de Sampaio, Ângela, e ganhou dela uma fita contendo músicas inéditas, ele começou a buscar por outras gravações inéditas e faz a recuperação dos respectivos áudios, material que foi então, lançado no CD “Cruel”, em 2006, que traz violão e voz original com Sérgio Sampaio, e arranjos de acompanhamento em pós produção trazendo diversos músicos que tinham afinidades com a música de Sergio Sampaio, como Itacyr Bocato Jr. O Bocato, trombonista e arranjador. O trabalho traz 14 canções que mostram o brilhantismo do compositor e sua bela voz, interpretando de forma maravilhosa e emocionante as suas novas pérolas.
Aos interessados, segue a discografia oficial de Sergio Sampaio em álbuns, existem compactos com duas canções que antecedem esses trabalhos.
Sociedade da Gran Ordem Cavernista Apresenta Sessão das Dez (com Raul Seixas, Miriam Batucada e Edy Star) – 1971
Eu quero é botar o meu bloco na rua – 1973
Tem que acontecer – 1976
Sinceramente – 1982
Cruel (póstumo) - 2006

quinta-feira, 14 de junho de 2018

K 1012


Conheci o Marco Porto por volta de 1981, quando voltava a pé seguindo  a calçada de chão batido, um trilho ainda, da Av. Nestor de Moura Jardim. Alguém chamou-me e um vulto me alcançou correndo e perguntou:
_Tu és o Chico, né? E então engatamos uma conversa sobre musica popular brasileira. No meio do caminho, Porto me convidou para um churrasco  para o qual estava se dirigindo, não foi uma grande festa e, sequer chegamos na hora mas, dali em diante nos tornamos muito amigos, deses que não desgrudam e que vão a todos os lugares juntos. Foram muitas cervejadas, carnavais e vagabundagens diversas.
O Porto, como o chamávamos foi um cara sensacional, piadista, sorridente, mexia com todo mundo e onde estava sempre era o centro das atenções, suas gargalhadas eram muito engraçadas. Também se deprimia as vezes, um dia o encontramos aos prantos, sem saber explicar por que chorava. Ficamos com ele a madrugada toda mas, nunca descobrimos o motivo do choro e também nunca mais tocamos no assunto. Sempre que estávamos juntos, as pessoas diziam que éramos muito parecidos fisicamente, apesar de que o Marco era mais moreno e o cabelo era bastante crespo mas, a cor dos nossos olhos eram bastante iguais e, sempre usamos isso em nossas galanteadas. O Marco tinha uma queda para bebida, algumas drogas e cigarro, tendo fumadomuito até os últimos dias de vida. 
Depois que casei em 1987, o Marco se afastou e passei alguns anos sem vê-lo mas, sempre que eu tinha oportunidade o procurava. Foi assim que levei o meu filho já grandinho para conhece-lo e, durante o passar dos anos o visitava em algum lugar, sempre parecia a mesma coisa, nunca mudava. Recentemente após um hiato de cerca de vinte anos, o procurei em sua casa, ainda estava bem, tomamos cerveja e conversamos muito, como sempre sobre música e política em geral. Marco me presenteou com um cd de João Bosco, o "Caça a Raposa" de 1975, em retribuição a uma foto dele com outros amigos que le levei de presente. A foto havia sido postada em uma página de rede social que ele não acessava, ele ficou muito contente. Outro dia, algumas semanas antes de sua morte o encontrei bem diferente, acamado, sem ãnimo e bastante entristecido, a ponto de não desejar que eu ficasse para conversar. Perguntei a ele se gostaria que eu fosse embora? Ele não respondeu mas, eu senti que ele queria ficar sozinho. Nesse dia, mesmo desanimado conversamos sobre filmes e, mais uma vez Marco me presenteou, com o dvd do filme "Inferno no Pacífico", de John Boorman. Recentemente recebi a otícia de sua morte, tardiamente, não fui a seu enterro mas, ontem fui até seu túmulo para fazer uma oração e me despedir. 
Descanse em paz, caro amigo.

quarta-feira, 14 de março de 2018

sábado, 3 de março de 2018

A Casa da Tia Iná & Outras Histórias


Das minhas lembranças de infância, a mais recorrente e aquela que mais tenho carinho é da casa da Tia Iná. Desde a primeira vez que fui levado por minha mãe em visita a minha querida tia fiquei muito impressionado, não só pela construção em si, mas pelo lugar todo muito bonito, que ficava na área rural da cidade, mas em uma localidade em que se podia chegar caminhado facilmente, desde o centro. Pelo que lembro havia duas maneiras de se chegar até a casa da minha tia: O normal e mais utilizado era pela estrada estadual, ainda de chão batido. Depois de alguns minutos de caminhada a cidade ia ficando para trás, as casas iam ficando rareadas até que só restava campo e estrada, logo após uma grande ponte de madeira andava mais um pouco e a esquerda havia uma porteira grande, dessas antigas no alambrado de arame, feita com três madeiras roliças como se fosse uma enorme goleira de campo de futebol, com as aberturas também em madeira, só que essas em madeira beneficiada com dobradiças grandes de ferro, dividida em duas partes para serem abertas quando passasse animais ou maquinas, e ao lado uma entrada menor de uso para as pessoas. Essa entrada era bastante peculiar, pois era feita também em madeira, e era uma catraca giratória em formato de cruz que permitia o ingresso de pessoas, mas barrava animais como cavalos e bois. Depois dessa entrada seguia-se por uma estradinha de chão no meio do capinzal alto, dois trilhos desenhados no chão pelo movimento freqüente das rodas de veículos. Esses dois trilhos faziam uma ligeira curva e depois se retificava em um ponto de onde na minha idade e altura já podia se avistar a casa. Uma linda casa grande de madeira em estilo simples e colonial, mas de uma beleza imensa, cercada por grandes pés de Hortência sempre floridos, que em contraste com o tom róseo da pintura da casa e o verde em torno, sempre me pareceu uma pintura em tela. Nesse ponto a estradinha quando eu ia com minha mãe eu sempre para ficar admirando a casa, minha mãe seguia a frente, depois parava meio brava e me chamava.
_Anda menino, não embroma!
Minha mãe interpretava aquela minha parada como timidez, ou um jeito de adiar nossa chegada até a casa da tia Iná. Alguns anos antes de minha mãe morrer tive a oportunidade de conversar sobre isso e pude lhe contar o verdadeiro motivo da minha parada estratégica, rimos muito quarenta e tantos anos depois daqueles tempos.
Um  outro modo de chegar até a casa da tia, esse mais perigoso e acidentado era ao chegar à ponte a que me referi anteriormente, era entrar a esquerda pulando o alambrado de arme e acessando a margem do arroio, que era na verdade um imenso canal escavado para levar água da lagoa para as plantações de arroz. Nas margens eram depositados a areia e terra escavadas do canal, que se tornavam amontoados ao longo deste, formando dunas que ressequidas pelo sol e pelo vento permitiam que se caminhasse sobre elas, num contínuo sobe-e-desce muito cansativo, mas que encurtava a distância de forma significativa. Quem optasse por esse caminhão chegava mais rápido, mas mais cansado. Minha mãe sempre me alertava do perigo de cair dentro do canal, que geralmente era de água baixa e cristalina, mas de uma altura bastante acentuada desde as dunas até o seu leito arenoso.  Outro perigo de se acessar a morada da tia Iná por esse ponto, é que se chegava pelos fundos da propriedade, onde ficava um enorme carneiro da família e que era muito bravo, ele ao avistar estranhos se precipitava em carreira desabalada na direção dos incautos e os acertava com cabeçadas que podiam causar ferimentos graves e contusões muito doloridas, esse animal era incontrolável e posteriormente deram um fim a ele. Sempre aconteciam coisas diferentes na casa da minha tia, tendo sido uma dessas coisas, uma que repercutiu por muitos anos. Foi quando se descobriu que eles  tinham no pátio diversas caixas com enxames de abelhas, que um dia se rebelaram e atacaram os animais da casa matando galinhas e acho que até porcos. Minha tia e minhas primas ficaram trancadas dentro de casa sem poder avisar os que estavam fora desse acontecimento, pois eles não poderiam voltar com os enxames a solta e atacando tudo, foi uma semana difícil e de aprendizado, pois as abelhas eram de uma espécie africanas muito selvagens e complicadas de serem domesticadas, picadas, muitas galinhas morreram, mas felizmente nenhuma pessoa foi atacada. Lá conheci também muitas pessoas que não eram familiares, mas que vieram a ser da família mais tarde, ou não. O namorado de minha prima mais velha, e que estava sempre por lá nas férias era o Franke, ele era muito simpático e moderno, gostava de trabalhar com hortaliças e estava sempre mexendo na terra. Uma tarde de chuva, numa semana que fiquei na casa de minha tia, Franke estava lendo uma revista enorme e colorida, me chamou a atenção uma fotografias de uma longa matéria onde haviam homens cabeludos e mulheres que se vestiam de forma muito esquisita, com adornos nos braços, colares e acessórios coloridos, Franke então me explicou que eram um pessoal dos estados unidos, que eram conhecidos como ”hippies”, que era uma espécie de moda e que em breve chegaria ao Brasil.
_Eles estão tomando conta do mundo, se espalhando por todos os lugares – Ele falou. Mas são adeptos da paz e gostam muito de música.
Fiquei em silencio ouvindo aquelas palavras que nunca mais esqueci. Franke era um cara legal, mas uma vez me enganou. Tínhamos ido ao centro da cidade, eu mais um primo, Franke e três primas: Sua namorada e as outras duas mais novas. Fomos ao cinema assistir um filme, não lembro o nome, na volta ele me disse para segurar uma garrafa, disse-me que era vinho e que me daria um gole quando chegássemos em casa, depois de muito caminhar com aquela pesada garrafa, cheirei uma  das mãos e percebi que o que tinha dentro dela era querosene para os lampiões, mas mesmo assim levei-a o resto do caminho, mas passei o resto da noite meio emburrado. Outra tarde chovia muito, o quarto dos rapazes da casa tinha uma porta para rua, para se entrar no quarto era preciso vir pelo lado de fora da casa. Um dia estávamos no quarto eu e meus primos, quando o mais novo deles arredou um pesado roupeiro e revelou por trás dele uma outra porta que não era usada comumente, mas como estava chovendo ele acessou o interior da casa através daquela porta “secreta”, aquilo me deixou muito impressionado também, até então eu só vira aquilo em filmes e estórias de gibis. Outra coisa que nos deixava muito felizes era o fato de um dos primos trabalhar como locutor e ter um programa na rádio local, sempre o escutávamos no rádio lá de casa. Um outro primo meu, este já falecido infelizmente, trabalhava vacinando rebanhos de gado e ia sempre em uma propriedade que meu pai teve, e por lá vacinava nossas vacas, juntamente com seus companheiros, um dia lhe perguntei se não tinha pena de cravar aquela agulha enorme nos animais e ele me respondeu:
_Até tenho, mas é para o bem deles. Ele me disse ainda trepado na cerca de um curral.
Foi nesse dia que compreendi a utilidade das vacinas, pois ele me explicou que evitava que acometessem doenças nos animais, assim como era feito nas pessoas pelos médicos. Outra vez esse mesmo primo, mais meu irmão e um veterinário e o meu pai, realizaram uma cesariana em uma vaca que ficou doente, salvaram o filhote, mas a vaca morreu. Era quase noite e a operação foi feita dentro de um mato, sob a luz de tochas de fogo, uma cena tão impressionante que até hoje sonho com ela.
Minha tia Iná era tão doce e bondosa, que eu acreditava naqueles dias que somente outra pessoa se comparava a ela, e era minha mãe sua irmã, que era de uma paciência e bondade que me emocionam até hoje quando penso nela. O marido de minha tia eu encontrava raramente, era um homem rude de mãos calejadas, sempre que apertava minha mão eu sabia que encontraria uma mão forte e dura, mas que era carinhosa e apertava a minha com suavidade, depois passava a mão em minha cabeça e sempre dizia:
_Como vai Chiquito? - Me olhando nos olhos com um olhar terno e carinhoso.
Depois que se aposentou tio Lulu como era conhecido passou a fazer alguns trabalhos artesanais, entre eles alguns canecos de PVC, ele mandou um para minha mãe, que está comigo até hoje. Certa vez fui levar comida para o meu tio, ele estava trabalhando em uma cerca perto de minha casa na cidade, em um campo nos arredores. Chegando lá estava ele e meu primo (o das vacinas), era meio dia e ele, meu primo estava em volta de um fogo de chão, fritando partes de galinha em uma enorme caçarola, exalando um cheiro muito bom no ar. Juntamos aquilo à comida de minha mãe que eu levara e fizemos um belo almoço. Naquele dia não fui à escola, pois passei o resto da tarde observando eles trabalharem nas cercas, quando cheguei em casa quase apanhei, foi por pouco mas recebi uma dura de minha mãe, que ficou brava comigo por uns quinze.....minutos. A minha tia mais velha, a que era namorada do Franke, certa vez passou alguns dias com minha família, quando moramos no interior, ela apareceu por lá com uma coisa que ainda não conhecíamos: um gravador com fita k7, nos mostrou a voz dos primos gravada e realizamos muitas gravações, até que as pilhas acabaram. Lembro de uma gravação em que o meu primo locutor cantava uma canção que fez para um sobrinho que era pouco mais novo que eu, uma paródia em que dizia assim:
_Murmura o mar a derramar uma canção, e o João Baptista até parece um leão.
E a gente escutava, voltava e escutava novamente dando muitas risadas, foi um tempo incrível aquele. Lembro também que fomos mergulhar em um arroio que tinha lá, depois de um mergulho minha prima querida retornou a superfície sem as sobrancelhas, elas eram de maquiagem, ou seja, pintadas. Aquilo também foi motivo de grandes risadas, minha prima é muito bem humorada e engraçada, mas um dias desses perguntei a ela sobre isso e ela mudou de assunto, não lembrou. Teve um caso que eu ouvia contar naqueles tempos, era que o meu primo, acho que o mais velho da família, muito simpático e amigo, teria um dia por motivo de trânsito  fugido da polícia em seu carro, e que se entrincheirou nas escadarias de seu prédio e teria ameaçado os policiais com um revolver. Não sei como isso terminou, mas acho que terminou bem, pois ele está vivo até hoje, sempre tive vontade de perguntar isso a ele, mas por vergonha nunca perguntei.
As memórias que ficam são aquelas que sempre cultivamos, seja por serem desagradáveis e impossíveis de esquecer ou por nos trazer de volta coisas boas e momentos bons que vivemos. Só tenho coisas boas e memórias deliciosas dos tempos da casa da tia Iná e de sua família, mesmo passado tantos anos, sempre tiro um tempinho para lembrar desse período incrível de nossas vidas e tenho certeza que nunca esqueceremos daqueles dias. Sempre que estou chateado ou triste, me refugio em meus pensamentos na casa da tia Iná.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Nuances & Tons

Não é preciso um equipamento sofisticado, para se obter lindas imagens desde a margem do lago na cidade de Guaiba. Os horários em que a luz é mais propícia são os dos finais de tarde ou pela manhã bem cedo, antes do sol nascer pois, logo após despontar em dias claros, a luz já se torna intensa o suficiente para estragar qualquer imagem que se queira fazer. A tarde quando aluz vai se amainando é possível conseguir tons incríveis, que variam do mais escuro cinza, passando por tons pasteis ou coloridos variados de intenso fulgor, ou nuances esmaecidas que partem de alaranjado extremo ao mais suave róseo.



Em dias de prenuncio de temporais, ou mesmo nos momentos que antecedem ou sucedem esses fenômenos meteorológicos, predominam os tons cinzas e pode-se obter imagens quase preto e branco mesmo sem adição de qualquer efeito, bastando para isso um enquadramento adequado e um posicionamento específico, que a experiência nos confere.




Vale a pena uma visita. Para aqueles que gostam de fazer belas fotografias é só pegar o Catamaran em Porto Alegre e se divertir com a viagem. Em pouco mais de meia hora se faz a travessia que é muito bonita e segura.






terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Ezy descobre o amor e o prazer (erótico)

Ela foi em menina, uma criança linda de olhos castanhos de mel, sorriso alvo e uma alegria constante que contagiava os mais velhos e encantava a todos que conviviam aqueles dias. Nunca a vi reclamar de nada, apenas queria andar junto conosco, que éramos um pouco mais velhos em torno dos dezenove anos, alguns mais. Ela tinha sede de se aventurar no amor e no sexo, gemia em meu ouvido me provocando desejos torturantes e queria que eu fosse o primeiro a ama-la, e eu resistia e dizia a ela que ela era muito nova, que procurasse as meninas e meninos de sua idade, o que ela protestava esfregando sua vagina ansiosa em meu joelho, balançando para um lado e outro,se masturbando em minha perna na verdade. No sofá na hora da televisão coletiva em meio a fumaça dos intermináveis cigarros da turma, e dos esfregões nas namoradas, ela sentava ao meu lado e acariciava meu penis e mordiscava minha orelha, ninguém percebia que aquela guria se aproximava demais de mim, sua mãe dizia: _Como essa menina gosta de ti. ingenuamente repetia.
Um dia Ezy, vamos chamá-la assim, deitou seu rosto sobre meu colo, no sofá como costumava fazer quando não havia mais ninguém no estofado, esfregando o rosto por sobre meu jeans e fazendo meu membro ficar duro como uma pedra, desisti de me esquivar e deixei que se divertisse a seu modo. Ezy abriu meu ziper, a glande de meu pau saltou entumescida para fora, ela lambeu, beijou e chupou, a glande rósea inteira na sua boca, quiz afastar sua cabeça, ela não deixou e gozei um, dois, três jatos de esperma quente em sua boca carmim, o que ela sorveu sem escorrer uma gota, chupou até que senti um certo incomodo e a afastei. Meu coração batia descontrolado, um misto de prazer e medo de ser apanhado por alguém, Ezy lambeu os lábios e me olhou ternamente, no seus olhos castanhos e doces reinava uma certa paz e alívio, retirou a mão do meio das pernas, os dedos envoltos em uma grossa e viscosa camada de seus eflúvios corporais, passou os dedos na minha boca e o gosto agridoce de sua vagina me tomou os sentidos. Ezy havia gozado pela primeira vez com um homem, indo muito além de suas siriricas solitárias nas noites quentes e eu a amei muitas vezes naquele verão ainda. Um amor proibido, mas igualmente ingênuo  e sincero. Data vênia doutora, permita-me que me recorde daqueles dias memoráveis. 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Tua fenda, minha fresta (erótico)


Minha fresta,
tua fenda.
Eu de olho me excito,
tu não ligas,
tu não vês enquanto pinça sobrancelhas.
Meu membro duro, roça a escada,
imagino tua fenda,
da minha fresta me masturbo.