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Generalidades com Especificidade

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sábado, 13 de março de 2010

O Colecionador do Ônibus


No início dos anos oitenta, quando eu trabalhava em uma loja de ferragens na minha Cidade, ouvi no balcão, contado por um policial em vias de se aposentar um história deveras curiosa. Era um dia de chuva, quando as conversas ficam mais demoradas, e os ouvidos mais atentos.
A polícia da Cidade recebeu uma queixa da empresa de ônibus concessionária da linha intermunicipal, que fazia (e faz até hoje) a ligação de Guaiba com Porto Alegre, no sentido de que estava havendo um tipo de depredação do patrimônio da empresa, mais precisamente nas poltronas dos coletivos que faziam essa ligação. Ocorria que estavam aparecendo diversos ônibus com um retângulo recortado simetricamente de suas poltronas. O problemas já fazia alguns dias que estava ocorrendo, sem que cobradores, fiscais e motoristas conseguissem descobrir quem era o vândalo que andava fazendo essas estrepolias. Era bem comum nessa época, que grande parte dos estudantes de Guaiba, com maior poder aquisitivo usassem as escolas de segundo grau de Porto Alegre para dar continuidade, a seus estudos, o que fazia o caso se tornar mais difícil devido ao grande numero de jovens, que faziam esse percurso em diversos horários do dia. E como a coisa parecia ser obra de algum jovem arteiro, as investigações começaram.
Todos os motoristas e funcionários da empresa foram alertados para ficarem de olhos abertos, prestando muita atenção na movimentação para que esse caso pudesse ser solucionado. Da parte da polícia foi colocado um agente que passou a entrar nos ônibus em horários pré determinados para tentar dar um flagra no meliante. Semanas se passaram sem nenhuma novidade no caso, a não ser o aparecimento dioturno de mais e mais bancos avariados, a média de um por dia. Muitas vezes dois.
Certa ocasião o motorista de um coletivo, começou a prestar atenção em um rapaz, franzinho, e sempre tímido que fazia uso do transporte diáriamente, e que nesse dia pareceu mais assustado do que o normal, visto que nem havia descido em seu ponto costumaz, que era na rodoviária no centro da Cidade. Alguma coisa o havia deixado desconfiado, e parecia que ele pretendia saltar em um lugar mais apropriado, talvez depois de jogar fora alguma coisa que tinha na bolsa.
No final da linha, quase na garagem da empresa, o motorista chamou o cobrador e contou-lhe de sua desconfiança. Pararam o ônibus e interpelaram o jovem que assustado, foi logo mostrando a bolsa escolar onde estava um recorte simétrico de um assento do coletivo. Foi levado até o escritório da empresa, chamados seus pais e a polícia. Como se tratava de família tradicional da comunidade, foi acertado que o pai pagaria o prejuizo causado à empresa, o caso seria abafado, ficando o menino incumbido apenas de explicar a história toda. Não se sabe o que aconteceu no seio dessa família, somente que o pai envergonhado, entregou posteriormente na delegacia, ao policial que contou-nos a história, um álbum desses antigos que se colocavam fotografias, com diversos recortes do material dos assentos dos coletivos, devidamente catalogados, por data, hora e numero do ônibus de onde fora tirado o recorte. Contava esse álbum com mais de cinquenta recortes.
Como boa cidade interiorana, o caso logo caiu no esquecimento e talvez hoje cerca de quatro ou cinco pessoas apenas lembrem do fato. Eu, meus dois colegas de serviço e o então jovem colecionador, hoje um respeitável senhor acima de qualquer suspeita.

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