Em 1977 eu perambulava pelas ruas vazias de minha cidade, entrava em algumas lojas, sentava nas esquinas e olhava a vida com um certo marasmo nos olhos. O que eu via e ouvia não me agradava. Nos radios tocava uma musica velha, ou então a famigerada disco music daqueles anos. Eu não comprava discos, e conhecia alguma coisa de rock de programas de televisão, da guerrilha cultural que se tramava naqueles tempos de chumbo. Já sabia perfeitamente diferenciar a musica comercial, daquela mais caracterizada pelos apelos artísticos. Já tinha visto e gostado de Dylan, que conheci pela televisão com hurricane, naquele célebre concerto para John Hammond, onde Scarlet Rivera fazia um violino chorar naquela música. Essa música estava estourada, tocava sempre em um boate que eu frequentava por vezes fugindo da bruma daqueles dias incertos. Acompanhava um programa da televisão em que passavam nomes do rock, naqueles filmes promocionais das gravadoras. Já conhecia e apreciava, Rory Gallagher, Black Sabath, Zeppelin, Purple, Yes, Pink Floyd, Genesis, e outros, mas ainda estava um pouco à parte daquilo tudo. Uma tarde de inverno sem nada para fazer, fui até a rodoviária da cidade, para olhar através da tela do stand de revistas, para ver se alguma coisa me interessava. Quando já ia embora olhei para trás, e no alto das estantes vi a metade da página de uma revista, onde dava para ler as primeiras letras da palavra Rock. Imediatamente pedi para dar uma olhada, o que o dono da revistaria de pronto não só me atendeu como deu-me de presente a revista, que já contava com um ou dois meses de atrazo. Era a revista Rock história e glória, nº 4, se não me engano editada por Julio Barroso. Ezequiel Neves e outros corajosos de plantão. Era a biografia resumida de Bob Dylan. Foi onde fiquei sabendo de seu verdadeiro nome e de sua incrível história, e desde aquele dia passei a me interessar mais por Rock and Roll e por Bob Dylan. Eu tinha então 17 anos e já estava ficando velho, mas depois que descobri esses sons incríveis comecei a rejuvenecer a cada ano. Hoje conto com 50 degraus na escadinha da vida, e ainda tenho tudo daquele adolescente que nem havia se alistado ainda. E que tinha apenas uma calça lee, uma camiseta hering e um par de tênis bamba, e uma sopa quentinha esperando em casa.
sexta-feira, 5 de março de 2010
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