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Generalidades com Especificidade

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sexta-feira, 26 de março de 2010

Resposta à Coluna de Cristina André na Gazeta Centro- Sul


Olá Cristina!

Estive lendo sua coluna na Gazeta, de 13 de março de 2010, pois tenho a mania de ler jornais velhos e me deparei com o que tu escrevestes a respeito das tempestades e fenômenos "naturais", estarem sendo provocados por países com o intuito de atingir os inimigos. Apesar de saber que a procura por petróleo em grandes profundidades, e o vazio geológico momentâneo deixado pela extração do precioso líquido viscoso, possa mexer com as placas terrestres, acho um tanto improvável, que terremotos e maremotos possam ser provocados à revelia da natureza. Acho que ainda o homem em sua profunda maldade não tenha esse poder, mesmo que concorde que esteja procurando por isso. Queimadas, secas, maremotos, terremotos, avalanches, enxentes, buraco na camada de ozônio e outros acidentes a que estamos expostos, estão sim sendo provocados pelo homem, ou seja: Todos nós que temos nos atirados a esse consumo desenfreado, a essa busca insâna pelo acúmulo de objetos e bens materiais. Essa corrida na produção de alimento, carne e ítens de consumo gerados pela necessidade criada em todos nós por essa máquina grandiosa e insaciável, por nós mesmos alimentada. É sempre bem cômodo criar um inimigo, que tudo faz contra nós, e que a nós está sempre dirigindo sua ira e maldade. Mas se tu quando estivesse olhando a telinha como disses, e olhasse a tua volta veria o verdadeiro inimigo bem próximo de ti, tu mesmo, membro complacente desse imenso corpo que tomou conta de um paneta para si só, e que o explora e consome como se seus recursos fossem infindáveis e seu fim inatingível. Cristina querida, não existem eles. O que existe somos eu, tu, ele e nós.

terça-feira, 16 de março de 2010

Meu amigo e os discos de vinyl


Começamos a ouvir musica, sempre por influência de algum amigo ou parente. Os primeiros discos que tive me foram dados por um grande amigo que já se foi, e estão entre os que mais escutei na vida, e vez por outra ainda os escuto. Claro, não são fisicamente os mesmos, pois a midias evoluiram e já não usamos os mesmos velhos discos de vinyl.
Mauro tinha uma boa coleção de discos, no anos setenta e oitenta, e os seus discos eram muito cobiçados por mim que vivia pedindo-os emprestado. Fazia uma grande caminhada até sua casa por vezes para buscar algum disco, e repetia isso várias vezes no mesmo ano, por vezes com o mesmo disco. Alguns ele não deixava ficar muito tempo na minha casa e logo os resgatava, como é o caso de "Clear air turbulence" da Ian Gillan Band, pois esse era pouco encontrado nas lojas, por ter tido uma distribuição não muito grande, e por não ter caido no gosto do público rockeiro, visto que era um álbum com influências de jazz e fusion.
Rory Gallagher, somente conhecíamos através do Transasom, programa de televisão da RBS, pois não haviam discos nacionais dele, mas em uma viagem ao Rio de Janeiro, Mauro tratou de comprar dois exemplares: "Against the grain e Photo finish" ótimos, que logo estavam comigo. Esses dois chegaram a me pertencer, depois nos anos oitenta eles sumiram. Do Credence Clear Water Revival, Mauro deu-me o incrível "Green River" que guardei durante longos anos. Outro disco que transitava muito entre minha casa e a de meu amigo, foi "The progressive blues experiment" de Johnny Winter, que de tanto ir e vir, uma vez sucumbiu quando Mauro o trazia para mim, caindo de sua moto, e causando lhe um arranhão que quase acabaram com o disco, que tinha a excelente "My own fault" de KIng e Taub.
Em nossas festinhas de aniversário no trabalho, era comum trocar-mos presentes, pois faziamos aniversário juntos, e tal era nossa interação que no aniversário de 20 anos, nos presenteamos com duas cópias idênticas, compradas na mesma loja, sem sabermos, de "Comes tastes the band" do Deep Purple. Outra vez ganhei no aniversário "Take it Home" de B.B. KIng. Mas não lembro qual dei a Mauro.
Um dia nos encontramos no ônibus vindo de Porto Alegre, eu tinha ido a trabalho, e ele matou o serviço e foi atrás para me encontrar, mas somente nos vimos na volta, portando dois discos novos. Eu com "Jazz" do Queen, e Mauro com o primeiro disco solo de David Gilmour.
Na década de 2000, acabei vendendo um a um todos os discos que me restavam para o Mauro, que volta e meia ia na minha casa, escolhia o disco e ele mesmo fazia o preço, sem me dar alternativas. Por essa época eu já não mais escutava em vinyl, e Mauro os adorava, tendo aumentado bastante sua coleção, antes de seu desaparecimento em 2008.
Não sei o que foi feito com os discos do Mauro depois de sua partida, mas se eu parar um momento, sou capaz de lembrar de todos eles, de suas capas e do jeito que ele os guardava em um velho móvel de eletrola antiga. Como foi bom ter podido compartilhar desses discos nos últimos dias de vida dele, pois aos domingos sempre nos encotrávamos para escutá-los em sua casa. Sempre que eu escuto música lembro do meu amigo, talvez seja a forma que encontrei de homenageá-lo e mantê-lo na lembrança.
Um dia a gente se vê.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O Novo Sol Nascente


Finalmente foi lançado o mais recente disco póstumo de Jimi Hendrix. Com a rapidez dos meios de comunicação, leia-se internet, a essa hora todo mortal apreciador de Hendrix, já está calvo de saber detalhes e minúcias deste lançamento.
Janie Hendrix a meio irmâ de Jimi, que aparece em algumas fotos com o guitarrista, quando menina, é por assim dizer a diretora da empresa que controla o material do artista. Ela convocou o mago dos estúdios Eddie Kramer, que restaurou, normalizou, colou e reeditou um belo álbum de músicas de Hendrix. Polemica à parte, de que se é material inédito ou não, fica para os comerciantes e empresários discutirem. A verdade e de que se trata de uma obra muito bonita, feita por quem conhecia o som de Hendrix como ninguem, Kramer se esmerou em produzir com as melhores técnicas de estúdio um disco que tem a sonoridade moderna e perfeitamente comerciável, entre o público admirador do guitarrista.
Discordo de alguns que dizem se tratar de material apenas para colecionadores. Pois acho que o álbum pode ser ouvido como algo novo, trabalhado em cima de material pré-existente, pois colagens ou não, os solos e as bases viscerais de Hendrix estão ali. Creio que da forma que ele as montaria, caso trabalhasse com Kramer nessa finalização. Para quem como eu é admirador do músico, e que gosta até das picaretagens de Alan Douglas, pois escutei muito o "crash landing" e "midnight lightning", esse lançamento é um prato cheio de delícias, nessa mesa farta de porcaria que é a música atual. Conheço bem a obra de Hendrix e vejo a chegada desse trabalho como um somatório na sua estrada musical, bruscamente interrompida naquele hotel em Londres em setembro de 1970.
São versões diferentes da que costumamos ouvir em seus discos oficiais, como a magnífica "hear my train a coming", a swingante "Mr. bad luck" tem o balanço soul de Jimi, e em "Bleeding Heart" somos brindados com uma versão mais rápida desse clássico, "Ships passing trought de night" tráz o lirismo da melodia inconfundível dele. Algumas musicas são takes alternativos, outras são puramente "jams" de estudio, mostrando um Hendrix criativo e interado com os companheiros de banda. Mas o melhor mesmo é escutar e ter a própria opinião. De qualquer forma Eddie Krammer conhecia como ninguém a Jimi Hendrix e seu talento musical, e se queríamos algo "novo" de Jimi Hendrix, acredito que essa foi a melhor forma de apresentá-la. Kramer já produziu boa parte da história do Rock e esse é mais um capítulo nessa trajetória. O que sei é que as mixagens foram feitas a partir da fitas mestras originais, o que por si só ja garantem uma boa qualidade sonora, diferentemente daqueles lançamentos do final da década de 70 e anos 80, que ao que parecem eram feitos a partir do próprio disco de vinil. Agora levantou-se um véu, e tudo parece bem mais claro aos ouvidos. Vivas para Kramer, Janie e Jimi.

sábado, 13 de março de 2010

O Colecionador do Ônibus


No início dos anos oitenta, quando eu trabalhava em uma loja de ferragens na minha Cidade, ouvi no balcão, contado por um policial em vias de se aposentar um história deveras curiosa. Era um dia de chuva, quando as conversas ficam mais demoradas, e os ouvidos mais atentos.
A polícia da Cidade recebeu uma queixa da empresa de ônibus concessionária da linha intermunicipal, que fazia (e faz até hoje) a ligação de Guaiba com Porto Alegre, no sentido de que estava havendo um tipo de depredação do patrimônio da empresa, mais precisamente nas poltronas dos coletivos que faziam essa ligação. Ocorria que estavam aparecendo diversos ônibus com um retângulo recortado simetricamente de suas poltronas. O problemas já fazia alguns dias que estava ocorrendo, sem que cobradores, fiscais e motoristas conseguissem descobrir quem era o vândalo que andava fazendo essas estrepolias. Era bem comum nessa época, que grande parte dos estudantes de Guaiba, com maior poder aquisitivo usassem as escolas de segundo grau de Porto Alegre para dar continuidade, a seus estudos, o que fazia o caso se tornar mais difícil devido ao grande numero de jovens, que faziam esse percurso em diversos horários do dia. E como a coisa parecia ser obra de algum jovem arteiro, as investigações começaram.
Todos os motoristas e funcionários da empresa foram alertados para ficarem de olhos abertos, prestando muita atenção na movimentação para que esse caso pudesse ser solucionado. Da parte da polícia foi colocado um agente que passou a entrar nos ônibus em horários pré determinados para tentar dar um flagra no meliante. Semanas se passaram sem nenhuma novidade no caso, a não ser o aparecimento dioturno de mais e mais bancos avariados, a média de um por dia. Muitas vezes dois.
Certa ocasião o motorista de um coletivo, começou a prestar atenção em um rapaz, franzinho, e sempre tímido que fazia uso do transporte diáriamente, e que nesse dia pareceu mais assustado do que o normal, visto que nem havia descido em seu ponto costumaz, que era na rodoviária no centro da Cidade. Alguma coisa o havia deixado desconfiado, e parecia que ele pretendia saltar em um lugar mais apropriado, talvez depois de jogar fora alguma coisa que tinha na bolsa.
No final da linha, quase na garagem da empresa, o motorista chamou o cobrador e contou-lhe de sua desconfiança. Pararam o ônibus e interpelaram o jovem que assustado, foi logo mostrando a bolsa escolar onde estava um recorte simétrico de um assento do coletivo. Foi levado até o escritório da empresa, chamados seus pais e a polícia. Como se tratava de família tradicional da comunidade, foi acertado que o pai pagaria o prejuizo causado à empresa, o caso seria abafado, ficando o menino incumbido apenas de explicar a história toda. Não se sabe o que aconteceu no seio dessa família, somente que o pai envergonhado, entregou posteriormente na delegacia, ao policial que contou-nos a história, um álbum desses antigos que se colocavam fotografias, com diversos recortes do material dos assentos dos coletivos, devidamente catalogados, por data, hora e numero do ônibus de onde fora tirado o recorte. Contava esse álbum com mais de cinquenta recortes.
Como boa cidade interiorana, o caso logo caiu no esquecimento e talvez hoje cerca de quatro ou cinco pessoas apenas lembrem do fato. Eu, meus dois colegas de serviço e o então jovem colecionador, hoje um respeitável senhor acima de qualquer suspeita.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Led Zeppelin no Bom Fim


Em 1977, eu havia assistido o filme "the Songs Remains the Same" que registrava a magistral performance do Zeppelin no Madison Square Garden em New York, no cinema Astor, na Benjamin Constant. Tinha claro,desbundado, pois o Zeppelin era minha banda preferida por aqueles dias. Mas o impacto verdadeiro com essa obra prima, se deu dois anos depois em 1980 no cinema Bristol na Oswaldo Aranha.

A sessão seria a meia-noite, em um ciclo de filmes de Rock, que já estava acontecendo ha dias, sempre nesse horário. Cheguei as 23 h. e a fila já era enorme, sugerindo que pelo lado de fora já havia sem dúvida lotação para no mínimo duas sessões do filme. A turma era ruidosa e composta de fâns da banda, não havia nenhuma senhora com sacola de super mercado na fila, eu garanto. A multidão era composta quase que única e exclusivamente pela fauna do Bom Fim daquele tempo, que já se mostrava empolgada no momento. Abertas as portas para a primeira sessão, e já houve um pequeno tumulto na entrada, pois todos queriam os primeiros lugares na apertada sala do Bristol, o que foi constornado eficientemente pelo bilheteiro e um assistente.

Transcorria aquela primeira sessão normalmente lá dentro, mas do lado de fora a situação era um pouco diferente, pois com o inicio da madrugada, mais gente, que saia dos bares ia se incorporando as fileiras para assistir ao filme, o que exigiria mais de uma sessão extra, o que certamente não aconteceria. Quando houve o intervalo entre as sessões, para o ingresso na próxima, que conforme anunciado seriam duas, aconteceu mais um tumulto, com o mesmo motivo do anterior, entrar primeiro para pegar melhores lugares, pois dessa vez era bem maior o numero de gente para aquela sessão. Para organizar melhor a entrada da massa, o staff do cinema, dividiu a entrada das pessoas em duas etapas, pois a fila estava muito desorganizada. Quando a porta foi fechada, foi chutada e esmurrada pelos fâns da banda, parecia que o proprio Zeppelin estava lá dentro, e esses ânimos foram exaltados pela cara de felicidade e êxtase que os espectadores exibiam quando saíram da primeira sessão. Vidros foram quebrados, latas de lixo da frente do cinema foram chutadas, até que apareceu a Brigada Militar e os ânimos foram acalmados. Foi acertado que todos entrariam, mesmo que lotasse a ponto de não haver lugares para sentar. Meio tímido e com um pouco de receio daquels malucos fiquei entre os últimos a entrar, mas entrei. Mal passando a porta que dividia a sala do corredor, já tive que me sentar no chão, pois o volume de gente era grande, mas surpreendentemente, estavam relativamente quietos, salvo o ruído das conversas animadas. Não teve introdução, o filme começou direto, e às primeiras pancadas de "Bonzo" na introdução incendiária de "rock 'n roll, lá estávamos literamente aos pés da mais fabulosa banda do planeta. Já era madrugada quando saímos da sala, chovia torrencialmente, e a solução para escapar do temporal, foi entrar no "Lola" para beber cerveja e conversar até amanhecer. Parecia que tínhamos visto Led Zeppelin ao vivo naquela noite chuvosa do Bom Fim.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Pau Ferro - Caesalpineae ferrea


Tenho o privilégio de ter em frente de minha casa, uma árvore que meu irmão e eu plantamos a cerca de vinte anos. É um exemplar da árvore conhecida popularmente como "Pau - Ferro, que é mais comum no nordeste do País, e que agora descobriu-se que contém uma substância excelente no combate a micróbios e bactérias. No nordeste ele já é muito utilizado em infusões para combater desde tumores até diarréias. Caesalpineae ferrea é o nome dessa espécie, que além das propriedades medicinais, propicia uma sombra densa e agradável por todo o verão, sendo também muito resistente, de madeira de extrema dureza, como o nome sugere. Essa árvore tem um ciclo de vida, que mantém o proprietário, (se é que se pode dizer isso de uma árvore) ocupado o ano inteiro. Logo após o inverno, na chegada da primavera ela começa a brotar sua riquíssima folhagem, que é acompanhada por caxinhos floridos de um amarelo muito vivo, e que a medida que os dias vão passando, esses caxinhos floridos vão caindo, pontilhando o chão, ou pátio com sua coloração típica, gerando um enorme volume de residuo. Quando todos os caxinhos caem, está chegando o inverno, e também as folhinhas, miúdas e em número espetacular também começam a despencar, o que dura meses, num interminável fluir para baixo de uma cortina verde das pequenas folhas, que se amontoam no pátio e entopem tubulações e calhas de água, cobrindo os telhados com uma espessa camada, também gerando uma quantidade industrial de material orgânico. Quando finalmente todas as folhinhas caem, deixam a vista uma quantidade enorme, extraordinária de sementes, que são pequenos bagos pretos e que contém dentro as sementinhas propriamente ditas. Durante todo o inverno, pode-se exercitar lindamente o físico catando esses bagos que caem incessantemente, sobre o telhado, calhas, pátio e por onde se estender sua linda e maravilhosa ramificação de galhos. É possível juntar de uma árvore adulta cerca de um saco (de cimento), ou seja aproximadamente 50 quilos desse material. O suficiente creio eu, para reflorestar um parque inteiro. O barulho a noite dos bagos caindo sobre o telhado, é por vezes assustador, mas não causam prejuizo por serem bem leves, é que sua estrutura lisa e dura proporciona um estalar característico quando caem sobre telhados de fibrocimento.

Bem, passado alguns dias, se olha para cima com saudade da sombra da espetacular e frondosa árvore, pois dela restam apenas as ramificações e os galhos nus, o que nos entristece, pois ela com as folhas é muito bonita. Mas a tristeza dura bem pouco, pois se aproxima rapidamente a primavera e sua folhagem verde oliva começa a brotar febrilmente, com uma exuberância que somente a natureza é capaz. E com a folhagem brotam também os caxinhos dourados, que logo começam a despencar recomeçando o ciclo. Coisa para jardineiro nenhum botar defeito.

terça-feira, 9 de março de 2010

O Lado Escuro


Descobri o disco e a música fenomenal do Pink Floyd, na trilha lisérgica do álbum "The dark side of the moon" de uma maneira muito legal. No final da década de setenta, era a onda máxima de Guaiba, frequentar a discoteca "A Cocota" nas dependências do Clube do Comércio da cidade. A onda da Disco Music, John Travolta e seus asseclas, ainda batia forte por aqui, e todos sábado era dia de colocar a indumentária da moda, ensaiar alguns passos para não fazer feio com a namorada, e ir a luta. As noites invariávelmente eram muito divertidas, sem os exageros etílicos de hoje, e sem o consumo desenfreado de substâncias nocivas à saúde. O que se permitia era no máximo o uso ritualístico de um baseado.

Após a noite de dança frenética, era comum que o DJ. (disq jóquey) na época, sempre tocasse para finalizar a festa, algum disco por inteiro, que servia para acalmar os ânimos, e preparar para o longo retorno para casa, invariavelmente a pé, e de madrugada. Nessa noite, já quase dia, Mr. Hélio o DJ. preferido da cidade colocou para rodar o agora famoso àlbum do "prisma" do Pink Floyd.

Aqueles sons de coração pulsando, seguidos por uma rajada sonora, da hélice de um helicóptero, que desembocavam suavemente em "Breath" foram os 1:30 minutos mais incríveis da minha juventude. A respiração estava suspensa, o coração batia muito forte. Pelas únicas duas janelas da pequena sala da discoteca, o sol começava a surgir magnífico por sobre o não menos magnífico lago Guaiba. O silêncio reinou entre o educado público, não mais que 50 pessoas que lotavam "A Cocota". No acorde final de "Eclipse" eu havia acordado para uma nova vida e no outro dia até minha roupa já não era mais a mesma. Dali em diante comecei a perceber a música de uma forma que nunca havia percebido antes, e passei a me interessar ainda mais pela vida e suas coisas.

A Boate do Jucão


Em Guaiba nos anos setenta houveram poucos homens que não frequantaram a boate do Jucão. Ela permeou a década e entrou nos anos oitenta, como um ícone da diversão masculina na cidade e aqueles que nunca a frequentaram, por vezes mentiam em contrário para não parecerem desatualizados ou caretas. Tratava-se de uma velha casa no bairro hoje conhecido como Columbia City, e que ostentava em sua fachada uma incipiente lâmpada vermelha, que denotava o caráter erótico do lugar. As meninas que trabalhavam no local, nunca iam até a cidade, pois seriam discriminadas, então ou ficavam em suas casas durante o dia ou desenvolviam alguma atividade no próprio local de serviço. Eu por ser menor de idade, no auge da casa, nunca pude frequentá-la, mas seguidamente ia com amigos até o local, e ficávamos do lado de fora, na rua imaginando as cenas quentes que pudessem estar acontecendo lá dentro. Hoje passados muitos anos do fechamento da boate, após passar pelas mãos de outros donos, ainda lembramos, nas rodas de bar, da Boate do Jucão. Algum historiador, precisa resgatar a memória dessa casa, pois a prostituição já é tida quase como uma profissão corriqueira no país, e o lado romântico dessa praticamente já perdeu-se.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Aprendendo a amar Dylan


Em 1977 eu perambulava pelas ruas vazias de minha cidade, entrava em algumas lojas, sentava nas esquinas e olhava a vida com um certo marasmo nos olhos. O que eu via e ouvia não me agradava. Nos radios tocava uma musica velha, ou então a famigerada disco music daqueles anos. Eu não comprava discos, e conhecia alguma coisa de rock de programas de televisão, da guerrilha cultural que se tramava naqueles tempos de chumbo. Já sabia perfeitamente diferenciar a musica comercial, daquela mais caracterizada pelos apelos artísticos. Já tinha visto e gostado de Dylan, que conheci pela televisão com hurricane, naquele célebre concerto para John Hammond, onde Scarlet Rivera fazia um violino chorar naquela música. Essa música estava estourada, tocava sempre em um boate que eu frequentava por vezes fugindo da bruma daqueles dias incertos. Acompanhava um programa da televisão em que passavam nomes do rock, naqueles filmes promocionais das gravadoras. Já conhecia e apreciava, Rory Gallagher, Black Sabath, Zeppelin, Purple, Yes, Pink Floyd, Genesis, e outros, mas ainda estava um pouco à parte daquilo tudo. Uma tarde de inverno sem nada para fazer, fui até a rodoviária da cidade, para olhar através da tela do stand de revistas, para ver se alguma coisa me interessava. Quando já ia embora olhei para trás, e no alto das estantes vi a metade da página de uma revista, onde dava para ler as primeiras letras da palavra Rock. Imediatamente pedi para dar uma olhada, o que o dono da revistaria de pronto não só me atendeu como deu-me de presente a revista, que já contava com um ou dois meses de atrazo. Era a revista Rock história e glória, nº 4, se não me engano editada por Julio Barroso. Ezequiel Neves e outros corajosos de plantão. Era a biografia resumida de Bob Dylan. Foi onde fiquei sabendo de seu verdadeiro nome e de sua incrível história, e desde aquele dia passei a me interessar mais por Rock and Roll e por Bob Dylan. Eu tinha então 17 anos e já estava ficando velho, mas depois que descobri esses sons incríveis comecei a rejuvenecer a cada ano. Hoje conto com 50 degraus na escadinha da vida, e ainda tenho tudo daquele adolescente que nem havia se alistado ainda. E que tinha apenas uma calça lee, uma camiseta hering e um par de tênis bamba, e uma sopa quentinha esperando em casa.