Fomos muito felizes na casa de
Madalena, uma casa alegre de gente simples, dessas que quase não existem mais.
Era uma casa pequena, bonita feita de madeira em um belo terreno de esquina em
um lugar muito bonito. A casa era cercada de árvores com sombras frescas e um
jardim bem cuidado, um lindo e alto coqueiro se erguia em um dos cantos do
jardim. A casa era bastante antiga e não tinha mais cor de tinta alguma,
somente o cinza envelhecido das tábuas de madeira, resistentes aos anos. O tipo
de construção era das antigas casas de praia, com duas águas em uma cumeeira
invertida, onde as duas partes convergem de fora para dentro, do mais alto para
o mais baixo até a calha central que canaliza a água, coisa bastante comum em
décadas passadas.
Nos longos dias de nossas
juventudes, costumávamos depois das aulas nos reunirmos no alpendre da casa de
Madalena, ou nas sombras das arvores de fronte, tomando chimarrão, ouvindo
música, jogando, cantando e discutindo planos, marcando partidas de handball e
rindo muito. Alí se trocava olhares, paqueras, toques sutis de mãos, abraços
efusivos, primeiros beijos e muita amizade, sempre dentro do respeito a casa e
a família de Madalena. Também nas quentes noites de verão, aos sábados nos encontrávamos
lá, concentrados para as discotecas, as noitadas divertidas e saudáveis, as
longas caminhadas em turmas, depois a volta e a dispersão e tudo se renovava na
segunda-feira. Outro dia passei por lá, a casa não existe mais, foi demolida,
mas as árvores, os muros o velho coqueiro ainda estão lá...me deu um nó no
peito, parei e fiquei observando por alguns instantes, cheguei mesmo a ouvir as
risadas dos amigos, das meninas e enxerguei aquela linda turminha de
adolescentes, todos de abrigo esportivo azul marinho de uma mesma marca, aquela
das três listras, assim como os tênis brancos. Fomos muito felizes na casa de
Madalena.
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