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Generalidades com Especificidade

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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Léa e a Tela em Branco

 
                  Não sei exatamente a quanto tempo Léa estava ali sentada, com os pincéis e a paleta nas mãos, olhando a tela em branco. Eu a observara por mais de trinta minutos e ela continuava imóvel,  o olhar perdido na imensa e parda tela a sua frente. O atelier impecável como sempre: As tintas dispostas em "stands" alinhadas por cor e tamanho, os pincéis mais usados lado a lado em um grande quadro na parede, perto dos novos, esses devidamente guardados dentro dos invólucros de plástico. Recipientes contendo terebentina e outros solventes etiquetados e devidamente indicados como inflamáveis estavam a um canto mais afastado do cômodo, no cinzeiro uma bagana de cigarro ainda fumegava. O olhar de Léa não era por assim dizer um olhar triste, antes senão um olhar contemplativo do criador ante a impossibilidade da criação, o vácuo da inspiração, a suspensão da respiração, o transe. 
Léa vestia apenas uma camisa masculina de musseline,  que lhe caia como uma segunda pele por sobre o corpo quase adolescente e de um alvura angelical. Qualquer um que a avistasse veria tratar-se de uma pessoa que jamais se expunha aos raios do sol. Seus quadris juvenis pareciam maiores assim sentada na banqueta e com a perna esquerda cruzada sobre a outra. A mão direita com a paleta, levemente assentada sobre o colo, deixava a mostra através e além  da linha aberta de botões, um belo, rígido e bem desenhado seio. O pincel segurado entre os dedos indicador e médio, era firmemente travado pela tenaz do  polegar, a mão repousando sobre o joelho esquerdo, denotando o sinistrismo. A depressão formada pelo dois músculos lombares, que começava logo abaixo da nuca entre as espáduas e se prolongava até o início dos sulcos das nádegas era na verdade a visão do paraíso, tal a formosura e sensualidade que transmitia. Vistas assim por trás, Léa e sua tela em branco já eram em si um pintura, de telas pouco entendo, mas é assim que vejo Léa: Como uma tela a ser colorida pouco a pouco, lentamente.

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