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Generalidades com Especificidade

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Louva-a-Deus


Quando criança, desenvolvi não sei como, um medo terrível do inseto conhecido como Louva-a Deus, um inseto grande, verde e de pernas compridas com uma cabeça triangular diminuta e olhos pequenos e assustadores. Na verdade um inseto inofensivo eu viria a saber mais tarde. As noites de verão em que apareciam esses insetos na minha casa eram verdadeiras noites de terror, mas eu as vivenciava sozinho, sem comentar com meus pais. Uma noite com a luz acesa, um grande deles que estava agarrado ao forro pulou e voou em direção ao meu rosto, com a velocidade de uma raio saltei longe da cama  me desviando a tempo e conseguindo na mesma sequencia, esmagar o monstro com vigorosa pancada com o livro Eram os Deuses Astronautas de Erich Von Daniken ao qual eu estava lendo.
Mas a noite mais terrível que passei foi sem dúvida uma em que após meses sem ver um Louva-a-Deus entrei em meu quarto, acendi a luz e deitei-me, quando entrou pela veneziana um enorme Louva-a-Deus e pousou exatamente sobre a maçaneta da porta, impedindo qualquer tentativa minha de fuga. A janela era muito alta na rua e eu não poderia pular, espantar o monstro alado não me ocorria, visto que isso poderia embravece-lo e fazer com que saltasse sobre minha pequena pessoa. O jeito foi me recostar na cama e ficar folheando livros até que ele resolvesse sair dali, ou resolvesse sair pela janela, que deixei semi-aberta, rezando para que outro não entrasse. Quanto mais a noite enveredava madrugada adentro mais medo eu sentia e um terror  tomava conta de mim. Imaginei ele voando sobre meu rosto, perfurando meus olhos e injetando seu terrível, nefasto e mortal veneno, acabando ali mesmo com minha preciosa vida. Tantos filmes ainda não vistos, livros que jamais eu leria, brincadeiras que nunca mais eu participaria. Não viveria para ter coragem de contar a Aninha o quanto eu gostava dela, e imaginar a pretinha junto com outro guri me assustava tanto quanto o Louva-a-Deus. Absorto eu meus delírios de medo nem notei que o bicho havia se movimentado em torno da maçaneta e agora pendia de cabeça para baixo, como se quisesse me dizer que estava de olho em todos os meus movimentos. Pensei em atirar um livro nele, abafá-lo com o lençol ou um travesseiro, mas o medo me deixava estático, sem ação nenhuma, nem ler mais eu conseguia, apenas fitava-o. Pensei em fazer barulhos, apagar e acender a luz de cabeceira, mas tudo me parecia perigoso, qualquer movimento meu e a fera pularia para terminar o que teria vindo fazer: Eliminar mais um ser humano. Quantos já teria matado essa semana? O vizinho que morreu subitamente na noite anterior, ninguém disse nada, mas poderia perfeitamente ter sido obra do Louva-a-Deus. E aquela senhora gorda do final da rua, que no més passado gritou durante dias de dor, finalmente morrendo sem que ninguém soubesse do que ela morrera? - Com certeza haveria de ter sido picada pelo Louva-a-Deus e sucumbido a peçonha fatal do esverdeado assassino. E agora aqui estou eu insone e a mercê do vil algoz, vivendo os últimos instantes de minha existência, a última madrugada da minha breve passagem sobre a terra, lar do inclemente Louva-a-Deus. Tive um breve cochilo e sobressaltei apavorado percebendo que a maçaneta da porta girava e o inseto medonho ficava novamente por cima dela, assumindo definitivamente a posição de ataque, eriçando as pernas serrilhadas e então... a porta se abriu de súbito e através da fresta o rosto lívido, e amoroso de minha mãe apareceu, enquanto o Louva-a-Deus era prensado de encontro a parede e caia estonteado ao chão.
_Problemas para dormir filho? - Quer alguma coisa?
_N..n..não! Balbuciei olhando m direção ao inseto no chão.
_Humm! Sei estás com medo do bichinho né?
Enquanto isso o Louva-a-Deus girou sobre seu próprio corpo e zumbindo precipitou-se em direção a minha cama, gelei, morreria ali em frente minha querida mãe, covardemente, imóvel picado pelo inseto ferido e mais mortal ainda, agora que estava ferido. Fechei os olhos e não vi a ação seguinte, quando Rex nosso gato grande e cinzento catou-o em pleno voo e devorou-lhe com uma só mordida a cabeça, movimento contínuo passou a devorar-lhe o corpo, os membros que estalavam e eram moídos pelas mandíbulas poderosas do felino, que após a refeição e de ter me salvo do monstrengo, pulou e deitou-se aos meus pés na cama lambendo as patas e me olhando vez por outra com o seu olhar protetor. Minha mãe a tudo presenciou em silencio, mas com um leve sorriso nos lábios, ajeitou o lençol sobre mim perguntando:
_Quer que eu leve o Rex para fora?
_Não. Pode deixá-lo comigo, acho que ele me protege como a senhora.
_Dorme estimado - Disse minha mãe beijando me na testa, até hoje sinto o calor e a ternura daquele beijo, depois disso nunca mais tive medo do Louva-a-Deus.

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