Tenho tentado exorcizar coisas que aconteceram ao longo de minha vida, as vezes tenho medo de esquece-las e escrevendo tenho a nítida impressão de que jamais vou perde-las. Fui criado praticamente sózinho e sempre tive uma infinidade de amigos invisíveis: Agentes secretos, heróis, vilões, encontros secretos com agentes de espionagem internacionais, sempre povoaram meu imaginário. Isso nunca me tornou alguém fechado para o mundo e amigos, mas me deu uma certa quietude e prudência que procuro conservar nesse já meio século de existência. Quando nos meus cinco ou seis anos de idade, vivia mais com gente adulta, principalmente irmãos, tios e primos, que me mantiam sempre à margem das conversas, ainda mais que naqueles idos recebiam muito pouca atenção os picorruchos, e os cuidados se restringiam à alimentação, higiene e educação. Jamais participávamos de alguma discussão, a menos que fossemos chamados à ela. Meus pais desenvolveram em mim o ato da leitura em geral, mas sempre tive uma enorme curiosidade pelas revistas em quadrinhos, mesmo bem antes de saber ler. Todos em casa sabiam disso e sempre que podiam, meu pai principalmente me alcançavam algum material dessa natureza. Dada a dificuldade de se conseguir revistas em quadrinho onde morávamos, e dada essa raridade eu sempre tive na minha imaginação a fantasia de um dia encontrar um baú cheio de revistinhas. E o fato aconteceu: Um dia espionando a conversa de meus irmãos e um primo meu muito querido da família e que na ocasião trabalhava com meu pai, vi quando ele abriu uma grande mala de viagem e dentro de seu interior brilharam dezenas de revistinhas, e vi também como ele pediu segredo daquele tesouro aos meus irmãos, visto que eu tinha pouca idade e poderia danificar aquele precioso material. Coisa que eu jamais faria pois admirava demais Hq's e qualquer material de leitura, e segundo minha mãe sempre dizia, eu nunca tinha estragado qualquer tipo de revista, livro ou gibi que fosse. A conversa que espionei de meu primo e irmãos, deus-se logo após o almoço de um dia qualquer da semana, e eu estava espiando através de uma fresta na parede de madeira do quarto onde eles estávam, e que era uma espécie de alojamento rústico que podia ser arrastado com um trator para qualquer lugar que fosse. Uma habitação provisória conhecido na campanha com "bolanta".
Então quando eles retornaram ao trabalho, furtivamente adentrei no recinto e embaixo da cama de meu primo pude visualizar a mala do tesouro, e com o coração na boca e sob a luz das frestas das paredes pude então abri-la e com alegria manusear aquele tesouro, o que fiz com todos os numeros ali contidos durante vários dias, sempre no mesmo horário. Um dia recebi a visita furtiva de minha mãe que me procurava, me viu logo e entendeu a situação, me disse para tomar cuidado com as revistas que eram de meu primo, mas manteve por toda sua vida esse segredo. Consegui a cabo de mais de uma semana lê-las a todas e meu primo ainda saiu no lucro, visto que não toquei nos vários pacotes de "mariolas" que ele escondia junto as suas preciosas Hq's. e descobri desde cedo que sozinho sou muito corajoso.
*Ilustração retirada da Internet - Google Imagens.
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