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Generalidades com Especificidade

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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Chico Mudo


A minha infancia foi recheada de tipos estranhos, pelo menos assim me pareciam, e posso exagerar pois minha imaginação sempre foi muito fértil e volátil. Uma das pessoas mais esquisitas e simpáticas que conheci, foi por volta de meus sete ou oito anos quando morávamos no interior do estado. Sempre recebíamos logo após o almoço a visita de um senhor alto e forte, parecido com os Ogros que eu via nas estórias em quadrinhos que lia. Ele media cerca de dois metros de altura e devia pesar uns noventa quilos. Não era gordo mas era muito forte, e vestia-se de modo não menos inusitado que sua figura. De calças largas e sempre arregaçadas, calçava sandálias de borracha e camisa xadrez de flanela, de magas compridas. Chegava lá pelas duas da tarde de um sábado ou domingo invariávelmente, batia palmas no portão, sorria um largo sorriso de sua boca desdentada, e convidado entrava e sentava-se à sombra de uma frondosa laranjeira, onde havia um banco rústico que meu pai havia construido para nossas horas de folga. Ali entre gestos e risos esperava o farto prato de comida que minha mãe lhe trazia, o qual comia com voracidade, emitindo estranhos ruídos, e grunhidos ininteligíveis. Ah! esqueci de mencionar que o velho Chico era surdo-mudo, mas era muito afável, apesar de ser quieto. Mas nunca demonstrava agressividade, e todas as vezes que almoçava em nossa casa, ao despedir-se agradecia tirando o chapéu e fazendo uma espécie de saudação inclinando o enorme corpanzil para a frente. Saudação sempre dirigida à minha mãe. Uma vez ele apareceu muito quieto e bastante resfriado, minha mãe deu-lhe um chá com um antigripal, e naquele dia ele comeu muito pouco, e estava triste e cabisbaixo, depois disso nunca mais o vi. Espero que aquele enorme, estranho e simpático ser tenha vivido bastante, ou se ainda estiver vivo que Deus o proteja. Senão espero que esteja em um lugar confortável e que sua alma boa seja feliz. Nunca esquecerei Chico Mudo enquanto viver.

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