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Generalidades com Especificidade

Generalidades com Especificidade

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Olaria


Das coisas que vi em minha infância, que até hoje me povoam os sonhos são as olarias. Não as olarias que estamos acostumados a ver em programas de tv, onde os "oleiros" fazem potes de barro e outros utensílos domésticos, artísticos e ornamentais, onde um trabalhador sentado em frente a uma máquina rústica giratória apertando entre os dedos o barro mole o transforma numa bela peça. A olaria que descrevo a seguir é o mecanismo ou conjunto deles que dão origem aos tijolos de barro que conhecemos, que fazem paredes, muros etc. Dentre os dias de minha meninice, esses que relatarei estão entre os mais belos.
Quando em minhas férias na escola rural que estudava, eu costumava atravessar a estrada que me separava da casa de um vizinho, atravessar sua oficina de ferragens e ganhar o outro terreno que ficava nos fundos para ver a fábrica de tijolos em ação. O mecanismo propriamente dito de onde saiam os tijolos crus era um cilindro de madeira de cerca de um metro e meio de altura, por um diâmetro de um metro, semelhante a um grande barril, por dentro desse havia uma enorme hélice ou pua vertical de ferro que na parte superior era conectado a uma espécie de lança de madeira grossa em que na outra extremidade estava amarrada à canga de uma junta de bois, esses dois animais em constante movimento circular em torno do "barril" faziam com que o barro colocado a pá dentro dele fosse pressionado para baixo pela enorme peça helicoidal, forçando-o a sair por uma abertura na linha circular inferior que tinha as dimensões laterais e frontais de um tijolo, sendo que na dimensão longitudinal o barro saía na forma de um lingote contínuo e ininterrupto. Posicionado defronte a essa saída, ou seja a frente do lingote de barro, o trabalhador, o "oleiro" manejava uma espécie de alavanca presa no sentido lateral do lingote de barro, que corria sobre roletes que sofrendo o impacto dessa alavanca que tinha fios presos na espécie de quadrado que formava, era cortado na forma defitiva dos tijolos. O "oleiro" então em movimento contínuo a intervalos regulares cortava aquela série de tijolos, colocando-os ao lado em carros de mão estratégicamente posicionados, devidamente "untados" com uma fina camada de areia, que quando cheios eram levados a um grande galpão, sem paredes laterais onde eram deixados sobre prateleiras, para que secassem completamente nessa primeira etapa, e que tem um tempo certo para que atinja o ponto exato de "amadurecimento" e possa passar a etapa seguinte.
A todas essas etapas eu acompanhava com curiosidade e espanto, e a que relato agora é a mais trabalhosa e delicada: O forno de cozimento dos tijolos se localizava em um desnível do terreno, que permitia que na parte de baixo se localizasse as aberturas dos fornos onde era introduziada grande quantidade de lenha. Na parte de cima eram colocados os tijolos cuidadosamente asentados usn sobre os outros, levemente separados para que permitir que o calor circulasse entre eles. O imenso salão, ou câmara onde os tijolos ficavam, era herméticamente fechado com uma alvenaria de tijolos e barro e após dado o início da queima ele permanescia fechado durante vários dias até que o cozimento finalizasse, quando então após mais alguns dias depois do fogo terminado essa câmara era então aberta para a retirada dos tijolos completando o ciclo de cozimento. Quando surgiam ainda quentes as pilhas de tijolos numa linda cor amarelo avermelhado tão diferente daqueles cor de barro sujo que alí entraram. Estavam prontos para serem usados.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Baú de Hq's


Tenho tentado exorcizar coisas que aconteceram ao longo de minha vida, as vezes tenho medo de esquece-las e escrevendo tenho a nítida impressão de que jamais vou perde-las. Fui criado praticamente sózinho e sempre tive uma infinidade de amigos invisíveis: Agentes secretos, heróis, vilões, encontros secretos com agentes de espionagem internacionais, sempre povoaram meu imaginário. Isso nunca me tornou alguém fechado para o mundo e amigos, mas me deu uma certa quietude e prudência que procuro conservar nesse já meio século de existência. Quando nos meus cinco ou seis anos de idade, vivia mais com gente adulta, principalmente irmãos, tios e primos, que me mantiam sempre à margem das conversas, ainda mais que naqueles idos recebiam muito pouca atenção os picorruchos, e os cuidados se restringiam à alimentação, higiene e educação. Jamais participávamos de alguma discussão, a menos que fossemos chamados à ela. Meus pais desenvolveram em mim o ato da leitura em geral, mas sempre tive uma enorme curiosidade pelas revistas em quadrinhos, mesmo bem antes de saber ler. Todos em casa sabiam disso e sempre que podiam, meu pai principalmente me alcançavam algum material dessa natureza. Dada a dificuldade de se conseguir revistas em quadrinho onde morávamos, e dada essa raridade eu sempre tive na minha imaginação a fantasia de um dia encontrar um baú cheio de revistinhas. E o fato aconteceu: Um dia espionando a conversa de meus irmãos e um primo meu muito querido da família e que na ocasião trabalhava com meu pai, vi quando ele abriu uma grande mala de viagem e dentro de seu interior brilharam dezenas de revistinhas, e vi também como ele pediu segredo daquele tesouro aos meus irmãos, visto que eu tinha pouca idade e poderia danificar aquele precioso material. Coisa que eu jamais faria pois admirava demais Hq's e qualquer material de leitura, e segundo minha mãe sempre dizia, eu nunca tinha estragado qualquer tipo de revista, livro ou gibi que fosse. A conversa que espionei de meu primo e irmãos, deus-se logo após o almoço de um dia qualquer da semana, e eu estava espiando através de uma fresta na parede de madeira do quarto onde eles estávam, e que era uma espécie de alojamento rústico que podia ser arrastado com um trator para qualquer lugar que fosse. Uma habitação provisória conhecido na campanha com "bolanta".

Então quando eles retornaram ao trabalho, furtivamente adentrei no recinto e embaixo da cama de meu primo pude visualizar a mala do tesouro, e com o coração na boca e sob a luz das frestas das paredes pude então abri-la e com alegria manusear aquele tesouro, o que fiz com todos os numeros ali contidos durante vários dias, sempre no mesmo horário. Um dia recebi a visita furtiva de minha mãe que me procurava, me viu logo e entendeu a situação, me disse para tomar cuidado com as revistas que eram de meu primo, mas manteve por toda sua vida esse segredo. Consegui a cabo de mais de uma semana lê-las a todas e meu primo ainda saiu no lucro, visto que não toquei nos vários pacotes de "mariolas" que ele escondia junto as suas preciosas Hq's. e descobri desde cedo que sozinho sou muito corajoso.
*Ilustração retirada da Internet - Google Imagens.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A Àrvore de Cachimbos


Eu tinha cerca de 4 anos, e morava em um dos lugares mais bonitos de que tenho memória, era um lugar de imensas plantações de arroz às margens da Lagoa Mangueira na localidade de Curral Grande, área rural de Santa Vitória do Palmar. Os mais incríveis invernos de minha vida foram passados alí. O lugar muito frio e úmido no período de inverno valeu aos moradores o apelido de "mergulhões". Nas épocas de frio com a cheia das lagoas Mirim, Patos e Mangueira o lugar se torna uma espécie de Holanda, visto que está situado entre elas, e tudo se torna um imenso alagado, ainda mais com as intensas movimentações de agua para o esgotamento das lavouras de arroz para a colheita. Eu morava ema especie de vila dos trabalhadores das plantações, onde haviam muitas máquinas agrícolas, famílias e movimentação de pessoal. Nas épocas de arregimentação de trabalhadores então, o lugar ficava cheio de gente nova e pessoas interessantes. Era uma outra época e as comunicações eram feitas somente através de radio amador, ou carta. Quando se precisava de alguma coisa, seja alimento, ferramentas ou equipamentos, ou até mesmo recursos médicos o jeito era ir até a cidade mais próxima, através de estradas rurais de péssima conservação ou recorrer ainda aos atalhos, que eram caminhos abertos entre as propriedades, os conhecidos "corredores".

Havia muita movimentação de máquinas, e para a manutenção dessas era necessário pessoas qualificadas para tal, então havia um imenso e organizado galpão onde funcionava a oficina da fazenda, que era perto da casa principal, quase à sombra de uma imensa e centenária figueira. O mecânico responsável era um senhor muito magro e simpático, que agora esqueço o nome, mas que tinha o habito de fumar cachimbo, usava uma boina preta que lhe dava um ares de um velho marinheiro. Era sempre muito sorridente e ágil e sempre que eu ia com meu pai na oficina, eu lhe pedia o caximbo, ao qual ele se dava ao trabalho de apagar, retirar o restos de fumo, limpava o bocal e dava para eu brincar. Quando eu lhe pedia que conseguisse um para mim, ele paciente e sorridentemente explicava-me que um dia que tivesse tempo iria buscar um, que ficava em uma árvora a beira da lagoa onde cresciam os caximbos. Eu esperei pacientemente por meses, imaginando aquela árvore frondosa carregadinha de caximbos. lógico o caximbo nunca veio, por razões lógicas, mas até hoje tenho gravado ma memória a árvore de caximbos que imaginei, e não esqueço da velha figura do mecânico manipulando suas ferramentas e fumando aquele caximbo com sua indefectível bona preta.



" O ministério da saúde adverte: Fumar é prejudicial à saúde"






quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Chico Mudo


A minha infancia foi recheada de tipos estranhos, pelo menos assim me pareciam, e posso exagerar pois minha imaginação sempre foi muito fértil e volátil. Uma das pessoas mais esquisitas e simpáticas que conheci, foi por volta de meus sete ou oito anos quando morávamos no interior do estado. Sempre recebíamos logo após o almoço a visita de um senhor alto e forte, parecido com os Ogros que eu via nas estórias em quadrinhos que lia. Ele media cerca de dois metros de altura e devia pesar uns noventa quilos. Não era gordo mas era muito forte, e vestia-se de modo não menos inusitado que sua figura. De calças largas e sempre arregaçadas, calçava sandálias de borracha e camisa xadrez de flanela, de magas compridas. Chegava lá pelas duas da tarde de um sábado ou domingo invariávelmente, batia palmas no portão, sorria um largo sorriso de sua boca desdentada, e convidado entrava e sentava-se à sombra de uma frondosa laranjeira, onde havia um banco rústico que meu pai havia construido para nossas horas de folga. Ali entre gestos e risos esperava o farto prato de comida que minha mãe lhe trazia, o qual comia com voracidade, emitindo estranhos ruídos, e grunhidos ininteligíveis. Ah! esqueci de mencionar que o velho Chico era surdo-mudo, mas era muito afável, apesar de ser quieto. Mas nunca demonstrava agressividade, e todas as vezes que almoçava em nossa casa, ao despedir-se agradecia tirando o chapéu e fazendo uma espécie de saudação inclinando o enorme corpanzil para a frente. Saudação sempre dirigida à minha mãe. Uma vez ele apareceu muito quieto e bastante resfriado, minha mãe deu-lhe um chá com um antigripal, e naquele dia ele comeu muito pouco, e estava triste e cabisbaixo, depois disso nunca mais o vi. Espero que aquele enorme, estranho e simpático ser tenha vivido bastante, ou se ainda estiver vivo que Deus o proteja. Senão espero que esteja em um lugar confortável e que sua alma boa seja feliz. Nunca esquecerei Chico Mudo enquanto viver.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Velha Máquina


Eu nunca consegui entender, por que uma maquina tão bonita, podia ser jogada fora, abandonada ao relento sendo encoberta aos poucos pela vejetação, comida lentamente pela ferrugem e servindo de abrigo a insetos e roedores. Eu subia naquele velho trator abandonado e brincava de agricultor, e achava linda aquela maquina ali inerte, faltando as rodas e imaginava que um dia ela fora útil e usada na lavoura. Mas estava ali agora abandonada, atirada ao do tempo; Não conseguia aber, como poderia ter diso esquecida? Será que não tinha conserto? Era um velho trator que hava atinjido o máximo de sua capacidade de durabilidade, não tinha mais como se investir valores e mão de obra em consertá-lo, agora sei e entendo, mas a criança não entendia e se divertia naquele tesouro, pedidndo a Deus que ninguem descobrisse aquele brinquedo, ali ao alcance de todos, mas que não despertava o interesse de ninguem. O velho trator Case era meu só meu.