Poucos artistas brasileiros tiveram
tantas mortes e renascimentos artísticos quanto Arnaldo Baptista. Em 1973,
depois dos Mutantes não conseguirem que a gravadora lançasse o álbum “O a e o Z”, Arnaldo
que vinha usando LSD, se mandou do grupo e se isolou na serra da Cantareira no
interior de São Paulo, completamente alucinado, com o intuito de construir uma
nave espacial, tendo sido esta a sua primeira morte artística, desapareceu por um bom
tempo. Renasce e retorna a atividade artística tentando seguir carreira de
produtor musical, mas o insucesso o motiva a tentar carreira solo. Então, Lança
”Lóki?” (1974), considerado seu melhor trabalho, mas, acaba por morrer
novamente e somente volta a renascer em 1977, quando forma um dos grandes
grupos do rock do Brasil, “Patrulha do Espaço”, projeto que não duraria muito
e, em 1978 deixa o grupo e volta a morrer.
Volta à vida em 1982 quando lança“Singin'
Alone”, um trabalho voltado para o rock progressivo, gravado
em uma espécie de limbo artístico, em 1981. Nesse ano morre mais uma vez e é
internado com forte depressão no Hospital do servidor Público de São Paulo,
onde tenta o suicídio jogando-se pela janela, sofrendo traumatismo craniano.
Sobre essa internação Arnaldo disse algum tempo depois: "depois que me
internaram da primeira vez, qualquer motivo era razão para me internar
novamente". Recuperado do “acidente”, Arnaldo Baptista renasce mais
uma vez e grava em apenas dois canais, para o selo “Baratos afins” o álbum “Disco
Voador” (1987). Uma gravação caseira, que não acontece. Arnaldo faz alguns
shows e morre. Para levantar recursos, estimular e manter viva a arte de
Arnaldo Batista, Carlos Eduardo “Gordo” Miranda e outros produtores produziram
o álbum tributo "Sanguinho Novo - Arnaldo Baptista Revisitado"
(1989), com bandas como Sepultura, Ratos
de Porão, Paulo Miklos, Felinni, entre outros nomes. A elaboração do disco levou quase dois anos e conseguiu
reunir 13 bandas. Cada uma apresenta sua forma pessoal de ver o trabalho
de Arnaldo. Algumas gravações extremamente felizes como “Dia 36” com o grupo “3
Hombres” que cometeu uma das melhores versões do tributo. A banda "Maria
Angélica" também se deu bem com a linda “Te amo podes crer”. Outras
participações foram sofríveis como a dos “Ratos de Porão” e “Sepultura”, que em
total dissintonia com a sutileza das composições de Arnaldo, cometeram verdadeiros escárnios musicais. O “DeFalla” também cometeria um destes ‘escárnios’, mas sua
versão ultra erotizada para “Vou me afundar na lingerie” nem chegou a entrar no
projeto final. As demais participações ajudam a salvar o trabalho, mas não o
suficiente para trazer Arnaldo à vida novamente, apesar de traze-lo aos palcos em algumas apresentações do projeto. A volta de nosso herói somente ocorreria em
2004, quando John Ulhoa do “Pato Fu” gravou no sítio de Arnaldo, no interior de
Juiz de Fora (MG), o álbum “Let it Bed”, que foi lançado como encarte da
revista, “Outra Coisa”, editada por Lobão. O trabalho ganhou o prêmio Claro de
Musica Independente de 2005 e foi considerado pela revista inglesa Mojo, como um
dos 10 melhores daquele ano e finalmente Arnaldo Dias Batista veio ao mundo
novamente. Excursiona, volta a tocar com os Mutantes em uma versão mais
moderna, o álbum “O A e o Z” deles é relançado, deixa novamente o grupo por
discordar da direção artística e comercial dada pelo irmão Sergio Dias. Volta a
fazer shows, pinta telas e faz diversas exposições. Dá entrevista e segue
trabalhando, com uma intensa agenda em 2018, como a apresentação de maio, "Sarau
o Benedito?", na qual acompanhado de um piano, de suas obras como artistas
plástico como cenário Arnaldo mostrou os clássicos "Cê Tá Pensando que Eu
Sou Loki?", "Não Estou nem Aí", "Jesus Come Back to earth”
e “Balada do Louco”, com estrondoso sucesso, na Caixa Cultural, em São Paulo.
Viva Arnaldo Baptista e suas muitas vidas!