A tarde ensolarada e calorenta fazia com que a umidade do inverno que passara, escorresse pelas paredes de alvenaria antigas da rua, o cheiro da fumaça dos automóveis misturada aos inúmeros odores dos carrinhos de pipoca e cachorro-quente me embrulhavam o estomago. Caminhei apressado tentando me livrar daquilo tudo, entrei por uma portinhola que dava no pé de uma longa escadaria, onde no topo em uma velha mais bem conservada escrivaninha uma morena prontificou-se a me atender:
_Boa tarde, quer fumar?
_C..c..como?
_Perguntei se quer fumar! Aqui é uma casa de ópio.
A afirmação me pegou de surpresa, nem sei porque estava ali.
_Quanto é? - Perguntei interessado, ou apenas para dar continuidade a conversa.
_Quinhentas pratas, pague depois a sessão. Disse me segurando pela mão e me conduzindo a uma outra dependência. Notei a bonita decoração em papel de parede floreado com motivos árabes e o intenso cheiro de incenso, chegamos a uma espécie de quarto bastante arejado, as cortinas balançavam com o sopro de uma briza leve, que no nível térreo não existia. Tinha uma grande sofá com arabescos e filigranas douradas bordadas, com almofadas combinando. No chão um colchonete de uma alvura ímpar situado ao lado de um magnífico narguilé prateado com detalhes em relevo davam um tom místico ao ambiente
_Fique a vontade, já volto, se quiser tire a camisa e sirva-se de uma bebida.
Foi então que notei sob a penumbra em um cantinho finamente decorado, uma mesinha redonda ao lado de um frigobar. Sobre ela diversas garrafas de uísque, camparí, rum e outras bebidas que não identifiquei de imediato.
_Não bebo obrigado.
A fabulosa morena, virou-se e me dirigindo um olhar de canto de olho malicioso e gentil sumiu pela porta afora. Tirei a camisa, os sapatos e deitei-me no colchonete olhando para cima, para o teto do qual oscilava um belo lustre do tipo castiçal e que no lugar de velas tinha lâmpadas bastante suavizadas, destas que possuem um potenciômetro ao lado do interruptor, que regula a luminosidade. Notei que tudo era muito limpo e asseado. Virei a cabeça para o lado e vi meu rosto distorcido refletido engraçadamente no metal prateado do bojo o narguilé, ao mesmo tempo que a morena que agora estava vestida como um odalisca entrou no quarto portando um caixa em suas mãos. Ajoelhou-se ao meu lado, senti o cheiro do sândalo invadir minhas narinas, seu sorriso era fabuloso, olhos imensos, lábios carnudos e seios fartos, com movimentos ritmados e suaves começou a manipular a caixa que trouxera.
_Fique tranquilo vou preparar o cachimbo - Disse com voz meiga e pausada, apenas concordei com um movimento vertical da cabeça, já que não conseguia desviar os olhos de seu generoso decote. Em segundos senti o cheiro forte do fumo base impregnar o lugar, ela deu uma longa baforada para avivar o queimador, adicionou o ópio, deu uma tragada demorada, segurou-a nos pulmões, soltou, repetiu o movimento e me passou a piteira. Tudo era de uma qualidade impecável. O ópio era suave e do bom, com duas tragadas eu já sentia-me flutuando sobre um colchão de nuvens. Fiquei meio inquieto com a sensação e devo ter feito algum movimento com o corpo.
_Relaxe, vou lhe fazer um massagem. - Consenti com o olhar. Ela começou a acariciar meu peito, suas mãos suaves deslizavam numa carícia inebriante que aos poucos se tornaram uma massagem mais vigorosa, mais não menos agradável. Ajeitando-se ao meu lado, desafivelou minha cinta e baixou minhas calças até os joelhos, untou as mãos com óleo de um pequeno frasco retirado da caixinha, massageando meu tórax em direção ao púbis. Fiz menção de levantar a cabeça para olhar.
_É óleo de uva, você vai gostar! Fume senão a brasa apaga - Disse sorrindo e me olhando nos fundo dos olhos. Eu ardia mais do que o narguilé. A massagem evoluiu para meu membro, ela o tomou com as duas mãos e suavemente iniciou movimentos que o deixaram em riste. Ela fazia movimentos de masturbação, detendo-se por vezes na glande, fazia pequenos torniquetes com os dedos indicador e polegar ao longo do membro, enquanto com a outra mão segurava apertando com suavidade meus testículos. O narguilé havia apagado, mas não interessava mais, pois agora eu me concentrava no prazer intenso que a bela me proporcionava. Perdi a noção do tempo e na nuvem que eu estava a uma altura imensurável agora, podia ver imensas listras coloridas no céu, que como um emaranhado de linhas faziam movimentos hipnóticos. Da parte de trás dessas linhas multicoloridas, surgiam dezenas, centenas de pequenos cilindros de diversas tonalidades e texturas, que assumiam diversas dimensões e a medida que se aproximavam assumiam o primeiro plano da visão geral, então explodiam em silencio liberando uma quantidade infinita de confetes aveludados que caiam sobre meu rosto como flocos de neve. Depois agrupavam-se novamente e tomavam a direção contrária, para trás das linhas e assim sucessivamente, por um tempo que eu não consegui determinar. Uma música, a que eu mais gostava, apesar de não identificá-la tocava num looping interminável que fazia eu quase perder a consciência, não fosse a sensação física que a deusa me proporcionava. De repente uma clarão no céu fez com que tudo desaparecesse e por uma fração de tempo tudo pareceu parar, até a minha respiração. Então ondas de eletricidade me percorreram o corpo, senti os músculos enrijecerem e mil relâmpagos e flashes de todas as cores imagináveis e algumas que nunca vi espocavam ao meu redor. Eu parecia me fragmentar e me tornar, ou não me tornar parte daquela plêiade de acontecimentos etéreos que se sucediam numa velocidade vertiginosa. Finalmente uma onda mais intensa se sobrepôs a anterior, mas de forma diferente, pois tinha uma suavidade e uma espécie de aveludado que não havia na anterior. Era acolhedora e trazia calma, senti-me voltando lentamente, um sabor de vinho bordeaux embotava-me o sentido do paladar, passei a sentir as costas suadas apoiadas no colchonete, o suor me escorria pelo rosto. Minha anfitriã passava uma toalha úmida e morna no meu abdõmem e em toda minha área genital, completamente despudorada segurava meu pênis como o de um bebê, com movimentos muito delicados procedia a higienização de minhas partes. Por certo eu havia ejaculado em proporções diluvianas a julgar pelas sensações indescritíveis que vivenciei. Eu estava meio sonolento, mas vi que ela me cobriu com um tecido fino como uma seda, uma espécie de véu e através dele vi quando seu tornozelo passou rente ao meu ouvido, tilintando uns sininhos de uma tornozeleira dourada. Fiquei assim por horas talvez. Quando me dei por conta, levantei de sobressalto me recompus e pude ver que tudo estava arrumado e limpo. A cabeça doía um pouco e o corpo estava meio dormente, cambaleante sai pela porta segundo setas indicativas de saída. na mesinha no topo da escada uma senhora muito gorda e com cheiro de alfazema recebeu o dinheiro, me deu um cartãozinho e me indicou a escadaria com um gesto vago da mão, num tom impessoal e reservado. Desci para a rua, o sol de final de tarde me ofuscou a visão, olhei o cartãozinho que dizia apenas: " Volte sempre ".