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Generalidades com Especificidade

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quinta-feira, 12 de julho de 2018

David Bowie - Outside - 1995



Quando morou na Alemanha entre 1976 a 1979, David Bowie produziu álbuns experimentais e revolucionários que ficaram conhecidos como “A trilogia de Berlim”:  “Low (1977), “Heroes” (1977) e “Lodger” (1979), todos com a colaboração do músico e produtor Brian Eno, mago da estética eletrônica que começava a vicejar com força, primeiramente na Alemanha a partir de Berlim e, em seguida se alastrando pelo mundo todo. Cabe salientar que a  exatidão do apelido de "Trilogia de Berlim" é debatido, pois apenas "Heroes" foi totalmente gravado em Berlim, nenhuma das faixas de Lodger foram sequer gravadas na Alemanha (apenas na Suíça e em Nova Iorque), mesmo assim, o termo foi utilizado de forma recorrente pelo próprio Bowie para descrever os álbuns. Temas profundamente enraizados no período de vida que Bowie vivia, como o uso rotineiro de drogas permeiam o primeiro álbum, o segundo e terceiro são mais leves mas, trazem as mesmas questões filosóficas existenciais que acompanharam o artista até o fim da vida. Instrumentais impecáveis e que apontam para diversas direções nortearam boa parte da música mundial a partir de então. Mesmo que esses trabalhos não sejam a produção mais popular de David Bowie, como elas viria a se tornar a partir dos anos oitenta, Bowie atravessou a década posterior com estrondoso sucesso em maravilhosas e longas tours, apontando sempre novos caminhos e descobrindo novos artistas para o mundo, como o caso do guitarrista Steve Ray Vaughan, que ganhou as rádios e TVs na música “Let’s Dance” do álbum homônimo de 1983, do qual participou, depois que Bowie o conheceu no festival de Montreaux algum tempo antes.
Seis álbuns depois da célebre trilogia, Bowie retornou ao tema. Após encontrar o amigo Brian Eno em uma festa de casamento, tiveram a idéia de voltar a produzir juntos, na mesma direção do que haviam feito em Berlim. Com o subtítulo "The Nathan Adler Diaries: A Hyper-cycle", “Outside” se centra nos personagens de um mundo distópico às vésperas do século XXI.  Bowie e Eno visitaram o hospital psiquiátrico Gugging, próximo a Viena, na Áustria, no início de 1994 e entrevistaram e fotografaram  pacientes artistas. Bowie e Eno levaram um pouco dessa arte consigo para o estúdio, enquanto trabalhavam juntos em março de 1994, criando uma peça sonora de três horas que era majoritariamente composta por diálogos, depois esse material foi editado e produzido de forma a ser contido em um álbum com tempo viável para comercialização.
O álbum “Outside” faz parte do material menos conhecido de David Bowie, se manteve assim durante todo esse tempo, como vendagens fracas e relegado ao escaninho mais obscuro do artista mas, tem especial apreço dos verdadeiros admiradores de sua música e é da mesma forma cultuado como os da trilogia dos anos setenta. A música de Bowie não é material de fácil absorção e, por apontar para universos diversos não faz parte do culto comum ao mundo do rock and roll, está acima de qualquer clichê destes que vem se repetindo desde os anos cinqüenta, baseados no blues e demais segmentos da música negra Americana. Bowie construiu sua própria música, uma colcha de retalhos que absorveu experiências de todas as vertentes, desaguando em um mar infindo de possibilidades que somente ele sobe dar forma. Mesmo que em alguns casos essa forma seja difícil de reconhecer. Com “Outside” Bowie pretendia como disse em uma entrevista, dar uma vida longa a esse trabalho, observando que o álbum foi feito como um reflexo da ansiedade dos cinco últimos anos do milênio: (1995 a 2000)
“No geral, o objetivo a longo-prazo é o de fazer uma série de álbuns que vão até 1999 - e tentar capturar, usando esse artifício, como se sentem os últimos cinco anos do milênio. É um diário dentro de outro. A narrativa e as estórias não são o conteúdo - o conteúdo é o espaço entre os pedaços lineares. As texturas enjoadas e estranhas... Ah, eu tenho as esperanças mais amáveis para o fim de século. Eu o vejo como um rito de sacrifício simbólico. Eu o vejo como um desvio, um desejo pagão de satisfazer os deuses, para que possamos seguir em frente. Há uma verdadeira fome espiritual lá fora sendo preenchida por essas mutações do que mal é lembrado como rito e ritual. Tomar o lugar deixado por uma igreja não-autoritária. Temos esse botão de pânico nos falando que haverá uma loucura colossal no fim deste século”
Bowie não levou a cabo suas idéias, mesmo assim produziu mais seis grandes trabalhos até o dia de sua morte em 10 de janeiro de 2016, em Nova Yorque.


quinta-feira, 5 de julho de 2018

Bebeco Garcia - Me Chamam Curto Circuito - 1999



Bebeco Garcia foi provavelmente o maior guitarrista de blues e rock do rio grande do sul e quiçá do Brasil. Ele reunia em sua pessoa a empáfia de “rock star”  com o carisma de Blueseiro feroz e,  tinha técnica guitarrística e vocal para sustentar o status. A exemplo de feras como Celso Blues Boy e André Christovam, desenvolveu um estilo próprio, que funcionava bem ao vivo e nos diversos álbuns que deixou: “ Aleluia, aleluia” (1997), “Me chamam curto Circuíto” (1999), “Confidencial” (2003), “Rio grande, rio blues” (2005) e o espetacular registro ao vivo, da série Palco, gravado na Casa de Cultura Mário Quintana, no Teatro Bruno Kieffer, em 25 de julho de 2000, e lançado em 2005, onde aplicou de forma genial a sua técnica vigorosa de guitarra e lap steel.  Esse último um instrumento para se tocar sentado e sobre as pernas, ao qual Garcia tocava de forma peculiar, pendurado no pescoço como fosse uma guitarra comum. Sou admirador de Bebeco Garcia desde que o vi tocar pela primeira vez quando juntamente com seu grupo “Garotos da Rua”, eram a banda da casa do bar “Rocket 88” na Joaquim Nabuco, em Porto Alegre. Depois teve aquela participação magnífica no solo da musica “Nós que ficamos sós”, no álbum de Carlinhos Hartlieb “Risco no Céu” (1983).  Bebeco deixou algumas apresentações gravadas para a TVE  de sua fase solo e fez shows memoráveis em diversos lugares da capital e interior. Um dos melhores foi um coletivo com outros artistas na primeira inauguração do Araújo Viana depois da reforma no final dos anos noventa, em que deixou o público e alguns colegas de boca aberta, com sua pegada infalível no lap steel  e sua presença rockeira selvagem de palco. Convém registrar que ao longo de sua carreira solo, Bebeco Garcia contou com aliados, que o ajudaram a dar forma e moldar o seu talento nato, como – Egisto dal Santo, Fabio Lee, Edinho Galhardi e seu filho, Pedro Garcia que tocam de forma exemplar com o mestre em “Me chamam....”). José Francisco Mello Garcia nasceu na cidade de Rio Grande em 11 de outubro de 1953 e deixou esse planeta prematuramente no dia 19 de maio de 2010, não sem antes, espalhar muitas faíscas e derrubar disjuntores por onde andava e tocava.