No
inverno de 1982 eu estava estudando violão na Palestrina em Porto Alegre,
tomava duas caipirinhas de vodka no antigo Peter Pan e ia tomar aulas com o
professor Jose Fernando, o Zezé, ele para poupar trabalho me dizia que eu não
precisava de professor, que tinha que sair por aí tocando, então dávamos muitas
risadas e passávamos as aulas inteiras conversando sobre música e sobre os
shows coletivos que ele organizava. O Zezé achava que eu tinha um talento
enorme para guitarrista e me matriculou por conta própria no Clube do
Guitarrista do qual ele era o mentor e guru. O Clube do Guitarrista ficava em
um velho casarão de dois pisos ali na Barros Cassal e formou grandes
instrumentistas do rock aqui do Rio Grande do Sul, era um lugar muito louco e
incrível, tu passava pelos corredores e ouvia aquela zoeira toda, numa sala um
guitarrista espremia uma gianinni ligada a um wha-wha, noutra um baixista
domava um contrabaixo fretless em um fusion endiabrado a lá Jaco Pastorius, mas tudo com didática própria, currículo e muita
organização, uma verdadeira escola de música, apesar do assoalho do velho
casarão desmentir essa verdade, ringindo e estralando sob nossos passos. O Zezé
era um monstro guitarrista, tocava no Câmbio Negro, e andava às vezes numa
Kombi que era da banda, até peguei carona com ele uma vez, a Kombi era bem
estropiada e sempre havia algumas peças de caixas de som, alto falantes e fios
velhos atirados dentro dela. Um dia nesse mesmo inverno o Zezé organizou um
show coletivo lá no pátio do colégio Mãe de Deus na Tristeza, ele tocaria solo, com um violão de
doze cordas, mais o Vôo Livre e outra banda que não chegou a tocar, pois a
organização foi muito deficiente. Para se ter uma idéia, durante o show do Vôo
Livre, dois carpinteiros ainda estavam pregando tábuas no palco, mesmo assim
muitas pessoas compareceram ao evento, num frio de rachar de agosto, naquela noite de
sábado. O Mitch Marini do Câmbio Negro veio falar comigo, perguntou se eu era o grande guitarrista de Guaiba, olhei pro Zezé e ele disfarçou dando uma tragada no cigarro, logo percebi o trote e disse que estava tentando ser, kkkk.
Eu era convidado especial do Zezé e levei um amigo de Guaíba junto, nos
divertimos muito naquela noite, eu não pagava o que bebia. Foi à última vez que vi o Zezé, pois ele disse
que eu não precisava de professor, nem nas aulas do clube do guitarrista eu fui, também não peguei o monte de gurias que ele disse que eu pegaria... aquele Zezé
era um vigarista, o mais legal de todos, baita amigão, por onde andará o Zezé?
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