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Generalidades com Especificidade

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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O meu amigo Chico Barbosa


No final dos anos sessenta minha família morava em um sítio no interior do estado, e logo que chegamos ao local já fiz vários amiguinhos. Tanto no colégio rural que fazia o primário, quanto nas festas e reuniões de famílias tão comuns naquela época. Um de meus melhores amigos, talvez o melhor era um tocaio: Chico, um carinha muito magro e esquisito, mas dotado de muita inteligencia e bondade. Era muito quieto e pouco conversava com os outros, mas desenvolvemos um empatia mútua que conduziu toda nossa amizade durante os anos que convivemos. Chico tinha muitos brinquedos que eram feitos por seus dois cunhados (ele tinha duas irmâs muito bonitas) que eram exímios marceneiros, e desenvolviam e construiam para ele belos tratores, reboques e outras ferramentas agrícolas, que usávamos sempre em nossas brincadeiras que duravam um dia inteiro, nas longas tardes de verão que passávamos juntos. Nos dias de inverno que são mais curtos, eu ficava até os últimos raios de sol, e somente quando o sol já entrava no horizonte por trás das belas coxilhas eu ia para casa. Pequeno que era nos meus sete anos, com corajem enfrentava a viagem de volta, de cerca de quatro kilometros, por entre banhados e matagais, cortando atalhos, numa jornada inimaginável para um menino de hoje.
Havia na região um homem que desenvolvia máquinas e ferramentas, e que tinha um trator muito velho sempre atrelado a uma não menos velha trilhadeira, e que oferecia seus serviços aos pequenos agricultores que não dispunham de máquinas para suas colheitas. O trator desse homem, Otacílio Tech era seu nome, era o folclore da gurizada da época. Um velho Case 1938, de rodas de ferro e todo enferrujado, que andava muito vagarosamente cortando as estradas de chão e espantando os animais pelas longas jornadas que fazia pelas serras e planícies do lugar. Esse trator de Otacílio deixava um rastro bastante peculiar por onde passava, as rodas de trás do trator eram maiores que as da frente como de costume nessas máquinas, e deixava linhas perpendiculares paralelas no chão, o que era bastante curioso, pois não tinha pneus de borracha. Um dia Chico e eu num final de tarde, quase noite íamos e direção a um lago na frente de sua casa numa baixada para cavarmos algum valo de brincadeira, e Chico começou a fazer sulcos no chão com a pá, semelhante aos que as rodas de trator de Tech deixava no chão, fazia isso e dávamos risadas da semelhança. Ma num descuido de criança, Chico cravou a afiada pá em seu dedão esquerdo, decepando-o, e deixando pendurada a falange desse dedo. Sem chorar mas gritando ele dizia: Socorro atorei o dedo! Apavorado chamei seus pais que o acudiram e o levaram para dentro de casa para tratar o ferimento. Chico foi ao médico tratou e curou o dedo,. ficando sem a falange, o que nunca o atrapalhou em nada. Visitei-o várias vezes quando convalescia, brincamos muito depois disso, mas no início dos anos setenta nos mudamos para outra cidade e nunca mais vi esse querido amigo de infância. Espero que esteja bem, lhe mando um abraço forte, onde quer que esteja, pois hoje amanheci pensando nele.

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