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Generalidades com Especificidade

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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Cream - BBC Sessions




Eu nunca entendi direito o Eric Clapton. Em 1968 quando desfez o maior grupo de blues rock que o mundo conheceu ele disse que entre outras coisas estava magoado com o mundo da fama. Feito isso deu um 180 graus em sua carreira e desde então sua fama só fez crescer, tornando-se uma lenda cuja sombra sobre outros músicos se estende até hoje, tendo vendido milhões de discos em todo o mundo, e conquistado uma legião de admiradores. O timbre cortante de guitarra, que segundo os entendidos foi uma combinação explosiva de guitarra Gibson com amplificadores Marshall (Clapton chegou a usar quatro stacks Marshall completos nas apresentações do Cream), faziam um contraponto quase alucinado as improvisações de Jack Bruce, baixista que tinha um enorme background de jazz e que nos shows travava uma verdadeira disputa com Clapton em execuções de uma fúria animalesca, por vezes solando dentro da mesma escala e em uníssono com Eric Clapton, tudo isso sob o incessante trovoar da bateria de dois bumbos de Ginger Baker, também um veterano admirador de Ornette Coleman e do jazz em geral. Segundo dizem, e parte disso podemos conferir nos álbuns ao vivo do Cream, tudo era tocado a um volume ensurdecedor, como teria dito Eric Clapton a uma publicação em 1970, “ Fiquei surdo por um período de tempo. Eu tinha que usar fones de ouvi especialmente projetados, pois não conseguia mais ouvir nada em cima do palco.” Essa fúria incontrolável que projetou o Cream e o Blues para uma camada diferenciada da música, infelizmente desapareceu, reside apenas no imaginário de alguns e nos registros sonoros que chegaram intactos até os dias de hoje. BBC Sessions, apesar de trazer um Cream contido, apertado em faixas reduzidas, pois o formato radiofônico exigia isso, é uma demonstração viva dos que esses três homens podiam fazer tocando ao vivo. Essas gravações foram feitas com o grupo tocando como se fosse numa apresentação ao vivo, pouco mais de dois overdubs foram feitos, para corrigir um encorpar determinadas partes. Canções como “Outside woman blues” e “Cat’s Squirrel” possuem passagens arrepiantes da banda, presentes somente nas apresentações mais iradas registradas da banda. Não existem nesse álbum grandes passagens instrumentais devido ao tempo estipulado pela radio para as performances, mas mesmo assim conferir uma versão de “Crossroads” de pouco mais de um minuto e meio é como aquele orgasmo com a namorada no portão da casa dela; rápido, mas inesquecível. Fora isso tudo o mais que se diga serão adjetivos que se pode usar em tudo que é genial, único e assombroso.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Return to Forever - Chick Corea (piano e teclados), Stanley Clark (baixo), Al Di Meola (guitarras) e Lenny White (bateria)

 Where have I known you before, ( 1974 Polydor)

No Mistery (1975 Polydor)

Romantic Warrior (1976 Columbia)

Em 1974 com a saída de Bill Connors guitarrista do Return to Forever, o pianista e tecladista Chick Corea recruta o virtuose guitarrista Al Di Meola, que trazia uma carga grande de música flamenca visto a influência crescente de Paco de Lucia em seu trabalho. O grupo que já contava como Stanley Clark, baixista que acompanhou praticamente toda a carreira da banda e o baterista Lenny White, partiram para uma fase fantástica em suas carreiras, agora como quarteto. Gravaram um série de três álbuns consecutivos que colocaram-nos no patamar mais elevado do Jazz Fusion: 1974 - Where have I known you before, 1975 –No Mistery e em 1976 – Romantic Warrior, encerrando o período mais criativo do grupo. Depois retornaram em formação diferente em 1977 acrescentando naipe de metais, mas os tempos já eram bicudos para a boa música. Eu particularmente fico com esses três como exemplares diferenciados e únicos em seus respectivos conteúdos, de um período de confraternização entre amigos em torno da criação de uma música de um outro nível, (sem desmerecer qualquer outra) e da alegria de compartilhar bons momentos.

sábado, 22 de agosto de 2015

Ten Years After - Recorded Live ( Crysalis1973)



O que Alvin Lee e seus bandmates fazem com as canções nesse álbum furioso, está localizado próximo ao sobrenatural. A velocidade, entrega e paixão com que se atiram as execuções os colocam em um nível muito além do básico feito naquela época, que era uma período de intensa criação artística em todo o mundo. Músicas já então conhecidas do público como I'm going home, choo choo momma e Slow blues in C# são tocadas com fúria e um quase desespero. As multidões de fans que ocorriam aos shows eram imensas e participantes. Nesse disco pode se ouvir desde o início o clamor pela canção que eletrizou Woodstock, I'm going home, e que quando anunciada coloca o lugar abaixo, e Alvin Lee, Rick Lee, Leo Lyons e Chuck Churchill não decepcionam. Gravado com a famosa unidade móvel dos Rolling Stones em Amsterdam, Rotterdam, Frankfurt e Paris em quatro memoráveis noites (26 a 29 de janeiro) recebeu o tratamento final de estúdio no Olympic Studios em Londres. Chris Kimsey supervisionou as gravações e fez toda a magnífica engenharia de som de estúdio. Os lançamentos em cd's posteriores, por vezes mutilaram a ordem original do álbum e nada acrescentaram de significante ao já existente, com faixas que apenas agregam alguma novidade a fins de comercialização nada mais. O original por si só já é uma obra de arte musical atemporal e clássica.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Gov’t Mule – The Deep End Vol. I e II (ATO Evangeline 2001 e 2002)




Trata-se de dois álbuns, projetos dos remanescentes da primeira formação do grupo Gov’t  Mule do guitarrista Warren  Haynes. Haynes e Matt Abs. baterista, quando da morte do baixista Allen Wood em agosto de 2000, pensaram em desistir, mas em nome da música e do colega e tendo em vista que já trabalhavam em um novo álbum, resolveram que não tocariam com um novo baixista e sim com muitos outros. Para isso convidaram uma lista de diversos contra baixistas que Allen Woody gostava e tocando e gravando como se fosse ao vivo fizeram o vol. I em 2001 e o vol. II em 2002, no Theater 99 em Nova Yorque, com um estúdio móvel.  Os convidados  foram entre outros; Roger Glover, Jack Bruce, Jack Casady, Flea, Chris Squire, Tony Levin, Billy Cox, Phil Lesh, John Entwistle e Bootsy Collins. O projeto se caracterizaria como um tributo ao amigo, sem a necessidade desgastante de testar e contratar um novo músico. Sobre isso Warren Haynes diria mais tarde: “Achamos que esse processo poderia nos levar ao caminho certo e nos daria algum tempo – não precisávamos nos apressar em decidir quem seria o substituto de Woody, nem mesmo se haveria um permanente.” Todos os músicos convidados aceitaram de primeira, as músicas foram pensadas, compostas ou escolhidas tendo em mente o estilo de cada baixista, pois a ideia era de que cada um tocasse a música que mostrasse a sua própria maneira de se expressar, conferindo originalidade e beleza ao trabalho, bem como uma audição agradável e inesquecível. Detalhe: Todos os baixistas usaram o velho amplificador Ampeg  STV dos anos 70 de Allen Woody para dar um sonoridade homogênea as canções, como se fosse o próprio Woody expressando-se através do estilo dos amigos, e não uma interminável apresentação aleatória de convidados. Warren Haynes em entrevista a uma publicação disse:  “ As músicas tem a nossa cara com outras personalidades misturadas. De vários pontos de vista esse teria sido o disco que teríamos feito se Woody tivesse ficado vivo. Essa foi a missão, gravar um disco do Gov’t Mule e não um desfile de celebridades do contrabaixo.” Posteriormente em maio de 2003  o projeto teve segmento, com um show memorável e a gravação de um álbum duplo e filmagem em Nova Orleans, o The Deepest nd – Live in Concert.