Eu nunca entendi direito o Eric Clapton. Em 1968 quando
desfez o maior grupo de blues rock que o mundo conheceu ele disse que entre
outras coisas estava magoado com o mundo da fama. Feito isso deu um 180 graus
em sua carreira e desde então sua fama só fez crescer, tornando-se uma lenda cuja
sombra sobre outros músicos se estende até hoje, tendo vendido milhões de
discos em todo o mundo, e conquistado uma legião de admiradores. O timbre
cortante de guitarra, que segundo os entendidos foi uma combinação explosiva de
guitarra Gibson com amplificadores Marshall (Clapton chegou a usar quatro
stacks Marshall completos nas apresentações do Cream), faziam um contraponto
quase alucinado as improvisações de Jack Bruce, baixista que tinha um enorme
background de jazz e que nos shows travava uma verdadeira disputa com Clapton
em execuções de uma fúria animalesca, por vezes solando dentro da mesma escala
e em uníssono com Eric Clapton, tudo isso sob o incessante trovoar da bateria
de dois bumbos de Ginger Baker, também um veterano admirador de Ornette Coleman
e do jazz em geral. Segundo dizem, e parte disso podemos conferir nos álbuns ao
vivo do Cream, tudo era tocado a um volume ensurdecedor, como teria dito Eric Clapton
a uma publicação em 1970, “ Fiquei surdo por um período de tempo. Eu tinha que
usar fones de ouvi especialmente projetados, pois não conseguia mais ouvir nada
em cima do palco.” Essa fúria incontrolável que projetou o Cream e o Blues para
uma camada diferenciada da música, infelizmente desapareceu, reside apenas no
imaginário de alguns e nos registros sonoros que chegaram intactos até os dias
de hoje. BBC Sessions, apesar de trazer um Cream contido, apertado em faixas
reduzidas, pois o formato radiofônico exigia isso, é uma demonstração viva dos
que esses três homens podiam fazer tocando ao vivo. Essas gravações foram
feitas com o grupo tocando como se fosse numa apresentação ao vivo, pouco mais
de dois overdubs foram feitos, para corrigir um encorpar determinadas partes. Canções
como “Outside woman blues” e “Cat’s Squirrel” possuem passagens arrepiantes da
banda, presentes somente nas apresentações mais iradas registradas da banda.
Não existem nesse álbum grandes passagens instrumentais devido ao tempo
estipulado pela radio para as performances, mas mesmo assim conferir uma versão
de “Crossroads” de pouco mais de um minuto e meio é como aquele orgasmo com a
namorada no portão da casa dela; rápido, mas inesquecível. Fora isso tudo o
mais que se diga serão adjetivos que se pode usar em tudo que é genial, único e
assombroso.
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Return to Forever - Chick Corea (piano e teclados), Stanley Clark (baixo), Al Di Meola (guitarras) e Lenny White (bateria)
Where have I known you before, ( 1974 Polydor)
No Mistery (1975 Polydor)
Romantic Warrior (1976 Columbia)
Em 1974 com a saída de Bill Connors guitarrista do Return to Forever, o
pianista e tecladista Chick Corea recruta o virtuose guitarrista Al Di
Meola, que trazia uma carga grande de música flamenca visto a
influência crescente de Paco de Lucia em seu trabalho. O grupo que já
contava como Stanley Clark, baixista
que acompanhou praticamente toda a carreira da banda e o baterista Lenny
White, partiram para uma fase fantástica em suas carreiras, agora como
quarteto. Gravaram um série de três álbuns consecutivos que
colocaram-nos no patamar mais elevado do Jazz Fusion: 1974 - Where have I
known you before, 1975 –No Mistery e em 1976 – Romantic Warrior,
encerrando o período mais criativo do grupo. Depois retornaram em
formação diferente em 1977 acrescentando naipe de metais, mas os tempos
já eram bicudos para a boa música. Eu particularmente fico com esses
três como exemplares diferenciados e únicos em seus respectivos
conteúdos, de um período de confraternização entre amigos em torno da
criação de uma música de um outro nível, (sem desmerecer qualquer outra)
e da alegria de compartilhar bons momentos.
sábado, 22 de agosto de 2015
Ten Years After - Recorded Live ( Crysalis1973)
O
que Alvin Lee e seus bandmates fazem com as canções nesse álbum
furioso, está localizado próximo ao sobrenatural. A velocidade, entrega e
paixão com que se atiram as execuções os colocam em um nível muito além
do básico feito naquela época, que era uma período de intensa criação
artística em todo o mundo. Músicas já então conhecidas do público como
I'm going home, choo choo momma e Slow blues in C# são tocadas com
fúria e um quase desespero. As multidões de fans que ocorriam aos shows
eram imensas e participantes. Nesse disco pode se ouvir desde o início o
clamor pela canção que eletrizou Woodstock, I'm going home, e que
quando anunciada coloca o lugar abaixo, e Alvin Lee, Rick Lee, Leo Lyons
e Chuck Churchill não decepcionam. Gravado com a famosa unidade móvel
dos Rolling Stones em Amsterdam, Rotterdam, Frankfurt e Paris em quatro
memoráveis noites (26 a 29 de janeiro) recebeu o tratamento final de
estúdio no Olympic Studios em Londres. Chris Kimsey supervisionou as
gravações e fez toda a magnífica engenharia de som de estúdio. Os
lançamentos em cd's posteriores, por vezes mutilaram a ordem original do
álbum e nada acrescentaram de significante ao já existente, com faixas
que apenas agregam alguma novidade a fins de comercialização nada mais. O
original por si só já é uma obra de arte musical atemporal e clássica.
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
Gov’t Mule – The Deep End Vol. I e II (ATO Evangeline 2001 e 2002)
Trata-se de dois álbuns, projetos
dos remanescentes da primeira formação do grupo Gov’t Mule do guitarrista Warren Haynes. Haynes e Matt Abs. baterista, quando
da morte do baixista Allen Wood em agosto de 2000, pensaram em desistir, mas em
nome da música e do colega e tendo em vista que já trabalhavam em um novo
álbum, resolveram que não tocariam com um novo baixista e sim com muitos
outros. Para isso convidaram uma lista de diversos contra baixistas que Allen
Woody gostava e tocando e gravando como se fosse ao vivo fizeram o vol. I em
2001 e o vol. II em 2002, no Theater 99 em Nova Yorque, com um estúdio móvel. Os convidados foram entre outros;
Roger Glover, Jack Bruce, Jack Casady, Flea, Chris Squire, Tony Levin, Billy
Cox, Phil Lesh, John Entwistle e Bootsy Collins. O projeto se
caracterizaria como um tributo ao amigo, sem a necessidade desgastante de
testar e contratar um novo músico. Sobre isso Warren Haynes diria mais tarde: “Achamos
que esse processo poderia nos levar ao caminho certo e nos daria algum tempo –
não precisávamos nos apressar em decidir quem seria o substituto de Woody, nem
mesmo se haveria um permanente.” Todos os músicos convidados aceitaram de
primeira, as músicas foram pensadas, compostas ou escolhidas tendo em mente o
estilo de cada baixista, pois a ideia era de que cada um tocasse a música que
mostrasse a sua própria maneira de se expressar, conferindo originalidade e
beleza ao trabalho, bem como uma audição agradável e inesquecível. Detalhe:
Todos os baixistas usaram o velho amplificador Ampeg STV dos anos 70 de Allen Woody para dar um
sonoridade homogênea as canções, como se fosse o próprio Woody expressando-se
através do estilo dos amigos, e não uma interminável apresentação aleatória de
convidados. Warren Haynes em entrevista a uma publicação disse: “ As músicas tem a nossa cara com outras
personalidades misturadas. De vários pontos de vista esse teria sido o disco
que teríamos feito se Woody tivesse ficado vivo. Essa foi a missão, gravar um
disco do Gov’t Mule e não um desfile de celebridades do contrabaixo.”
Posteriormente em maio de 2003 o projeto
teve segmento, com um show memorável e a gravação de um álbum duplo e filmagem
em Nova Orleans, o The Deepest nd – Live in Concert.
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