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Generalidades com Especificidade

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terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Antúrium


As primeiras gaivotas do dia fazendo enorme alarido sobrevoaram e pousarem na praia, catando seus mariscos na brisa gelada da manhã. A areia já refletia os raios do sol outonal e o cheiro agradável de um oceano limpo chegava até as narinas. Hans abriu os braços espreguiçando-se, depois entrelaçando os dedos atrás da nuca forçou a cabeça para  frente em uma espécie de alongamento, bocejou passando a mão pelos cabelos ralos enquanto o sol surgia atrás de uma nuvem tropical. Caminhou uns dez passos em direção ao mar, parou e girou 180 graus olhando para o lugar de onde acabara de sair, os pés enterrados na areia, fazia movimentos com os dedos sentindo a aspereza dos grânulos a massagearem seus calos. Levantou os óculos acima das sobrancelhas, uma mão coçando a barba por fazer e a outra apoiando o antebraço na altura do cotovelo. O Antúrium, lia-se na tosca placa de madeira sustentada por duas enferrujadas correntes  de ferro, que pendiam do esteio que sustentava toda uma área aberta da enorme construção de madeira a sua frente. A esquerda da entrada em outra placa, essa escrita com giz de cera podia-se ler com alguma dificuldade nos garranchos mal desenhados: “Fechado até a próxima temporada”.
Hans se lembrou das agitadas noites da temporada no Antúrium, quando a musica alta e as risadas tomavam conta do ambiente. Lindas mulheres dançavam e divertiam-se sob o efeito do absinto e da magia das salsas e merengues tocados com entusiasmo pela orquestra de Manolito de la Trinidad. Sorriu ao pensar nos amores tórridos do verão, e  das mulheres que tivera em sua cama no andar de cima do Antúrium, após o término dos trabalhos nas longas madrugadas festivas. Mais a cima à esquerda em uma espécie de promontório, ladeado por centenárias palmeiras, e cercado por enormes muradas de pedra, era possível ver com clareza o solar dos Castelanzza e seu belo terraço, onde passou momentos de muito prazer, ouvindo música, dançando e divertindo-se junto aos proprietários e seu seleto grupo de amigos. As noites no solar dos Castelanzza jamais saiam de sua mente, a música, os jogos, a comida e a bebida farta e a alegria, essas sim não faltavam nunca. Era amado por essa família, não apenas por sua descendência nobre, mas também pelo excelente ópio que costumava presentear aos anfitriões, ópio Chinês que lhe chegava em remessas regulares vindo através do mediterrâneo numa rota exclusiva para a ilha, fora de qualquer linha de investigação. O clima quente da ilha era propício, aos que podiam pagar por bons momentos nos paraísos artificiais, os Castelanzza a tudo podiam e Hans aproveitava a vida dessa forma, consumindo e sendo consumido nesse redemoinho de prazer. Olhou mais uma vez para o Antúrium, precisava de reformas pensou, enquanto virava-se novamente e corria para praia. Como de costume primeiro molhou os pés, depois abaixou-se e com as duas mãos em concha pegou uma porção de água que passou no rosto deixando escorrer pelo peito bronzeado, Correu para dentro d’água por uns metros, quando não pode mais, levantou os braços unindo os polegares com as mãos estendidas para frente e mergulhou vigorosamente nas águas tépidas do Caribe. Foi fundo sentindo cada milímetro de pele em contato com o mar, quando sentiu  a areia fina do fundo, posicionou os pés e flexionando as penas impulsionou-se para cima e para fora d’água. À medida que emergia o verde daquele líquido tornava-se mais claro e brilhante até que viu a luz. Respirou fundo tomando ar, passou as mãos pelo rosto e cabeça tirando o excesso d’água salgada, pode visualizar o bonito contorno de Grapetree Bay. As ainda poucas construções onde se incluíam o Antúrium e o solar dos Castelazza estavam em destaque a sua frente, mas esse último era sobrepujado pelo belíssimo resort do Countessa’s Castle mais acima na colina verdejante. Amanha atravessaria St. Croix para buscar uns peixes no outro lado da ilha, iria a pé vencendo os pouco mais de um quilometro e meio, para tomar alguns martínis no iate clube observando as lindas turistas Francesas. A noite haveria a última  festa da temporada no solar dos Castelanzza, quem sabe não viria acompanhado. A vida sorria para Hans Venizélos, um grego nos trópicos.